A crise global de depressão

O ponto baixo do século 21?

A depressão é um dos maiores problemas de saúde que o mundo enfrenta. Mais de 350 milhões de pessoas em todo o planeta sofrem de depressão. Uma entre cinco delas passa por um período de depressão durante a vida, considerada a principal causa mundial de invalidez. Além do custo pessoal para o paciente e seus familiares, o impacto na economia é enorme; somente na Europa, o custo chega a € 92 bilhões por ano, e grande parte disso se deve à perda de produtividade. 

Os formuladores de políticas e os empregadores não têm conseguido perceber a dimensão e a urgência desse problema. Ao mesmo tempo, a doença mental continua a perder para as doenças físicas na alocação de recursos de saúde pública, e a sociedade ainda estigmatiza aqueles que sofrem com o problema. 

A questão é complexa e exige cooperação entre governo, meio acadêmico, profissionais de saúde, indústria farmacêutica, empresas e pacientes. A conferência de The Economist Events, patrocinada pela H. Lundbeck, reuniu os principais líderes de opinião de todos esses grupos para dar uma ideia do problema global, do impacto que a depressão tem na sociedade, no local de trabalho e na saúde e da forma como essa questão pode e deve ser tratada.

Kofi Annan
Norman Lamb
David Kinder
Hans-Ulrich Wittchen
Simon Wessely
David Haslam
Anders Gersel Pedersen
Mary G. Baker
Lorde Dennis Stevenson
Patrick McGorry
Alastair Campbell

Um forte motivo econômico e social para prevenir, controlar e tratar a depressão

O impractio da depressão

A depressão deve tornar-se prioridade global porque não apenas afeta a saúde e o bem-estar como também diminui a produtividade no trabalho e o crescimento econômico. Chamar o problema da depressão de crise global não é nenhum exagero. 

Kofi Annan

A falta de vontade política e o não reconhecimento da magnitude do problema da depressão estão solapando os direitos humanos fundamentais de centenas de milhões de pessoas, disse Kofi Annan, ex-secretário-geral das Nações Unidas, na abertura da conferência. Níveis básicos de cuidados estão sendo negados àqueles que precisam de ajuda; no mundo desenvolvido, o acesso ao tratamento da depressão fica bem atrás dos cuidados dispensados aos problemas físicos. Nos países mais pobres, onde os sistemas de saúde não funcionam da forma adequada, tal apoio pode não existir; trata-se de países afligidos pela pobreza, por conflitos e desastres naturais, de modo que a depressão é mais prevalente e mais grave. 

Os Estados-membros da OMS já aprovaram o plano de ação 2013-2020 de saúde mental, que reivindica aumento de 20% no tratamento da saúde mental, inclusive da depressão, até 2020. O Sr. Annan disse ser essencial que esses compromissos se transformem em ações concretas em todo o mundo. 

A saúde mental – e a depressão em particular – também deve ser colocada na pauta das Metas de Desenvolvimento do Milênio pós-2015. 

O combate à depressão requer abordagem multifacetada. O Sr. Annan pediu aos delegados que ampliem a rede de participantes forjando novas alianças e aprendam com as iniciativas criadas para combater as doenças infecciosas, cujas parcerias inovadoras entre setores e países culminaram em sucesso. 

É preciso também encontrar meios de elevar o número de pacientes em tratamento contra a depressão e melhorar a formação de profissionais de saúde e médicos, de modo que essa doença seja mais facilmente diagnosticada e tratada. 

Segundo estimativas diretas e indiretas de 2010, a depressão tem custo global de pelo menos US$ 800 bilhões, valor que deve mais que dobrar nos próximos 20 anos. 

As mulheres têm duas vezes mais probabilidade de sofrer depressão que os homens. 

Imperativos políticos para dar atenção á saúde mental e á depressão

O fato de que o tratamento de problemas mentais está longe de se equiparar ao das doenças físicas na alocação de recursos de saúde é um grande desafio para uma possível solução da crise da depressão. 

Norman Lamb, ministro de Estado de Cuidado e Apoio do governo do Reino Unido, disse que esse desequilíbrio entre saúde mental e saúde física tem de mudar. A saúde mental sempre sai perdendo. Mas não é aceitável que as pessoas vivam infelizes, acrescentou. No Reino Unido, se você tiver suspeita de câncer, conseguirá consulta com um especialista em duas semanas, mas se apresentar depressão ou um episódio de psicose, não terá esse direito. 

Existe uma razão moral e econômica muito forte para melhorar o atendimento, ajudar as pessoas a obter o apoio necessário e garantir que possam levar uma vida normal, sem estigmas nem discriminação.

Norman Lamb

Em seu planejamento de cinco anos sobre tratamento de saúde mental, o governo está estabelecendo padrões de tempo de espera para os serviços de saúde mental. A partir do próximo ano (abril de 2015), as pessoas esperarão entre seis e 18 semanas para receber tratamento. Será criada também uma norma de duas semanas para acessar o tratamento após o primeiro episódio de psicose. Contudo, alguns delegados argumentaram que essas metas ainda não são suficientemente boas. 

Os custos econômicos da depressão são altíssimos: o custo estimado da saúde mental para a economia do Reino Unido está entre £70 e £100 bilhões por ano, quase tão alto quanto o custo de fundação do NHS, em decorrência de faltas ao trabalho por motivo de doença, concessão de benefícios e perda de produtividade. Os delegados ouviram como o programa Improving Access to Psychological Therapies (IAPT) tem tratado mais de 2,6 milhões de pessoas, das quais mais de 1,5 milhão concluiu o tratamento e mais de 1 milhão ainda está em recuperação. Mais de 90.000 pessoas deixaram de receber auxílio-doença e benefícios. 

As empresas também deveriam desejar funcionários felizes e saudáveis, disse o Sr. Lamb. Isso deveria ser “do interesse delas”. Esquemas como a iniciativa Mindful Employer levaram 1.200 empresas a assinar um documento voluntário, e bancos como o Barclays, com quase 140.000 funcionários, concordaram em garantir apoio à saúde mental no trabalho como parte do esquema Time to Change.

Mais de 350 milhões de pessoas no mundo todo são afetadas pela depressão, número próximo ao da população dos Estados Unidos. 

No Reino Unido, praticamente a metade dos requerentes do Employment and Support Allowance declara que problemas de saúde mental são a principal razão da reivindicação dos benefícios. 

Combater a depressão – razão para e a promoção da saúde na depressão

Precisamos criar um sistema de saúde que trate uma mente perturbada e uma perna quebrada da mesma maneira. 

Nick Hækkerup

“Estamos diante de um desafio global, e a doença mental tem consequências graves para o indivíduo e para a sociedade”, disse Nick Hækkerup, ministro da Saúde do governo da Dinamarca, aos delegados. “Trata-se de um impacto oneroso, por isso é essencial que lidemos com esse problema de forma efetiva”, acrescentou. 

O Sr. Hækkerup disse que, embora todos sejam responsáveis pela própria saúde, é papel do Estado e da sociedade compreender mais a doença mental e tentar proporcionar a possibilidade de uma vida melhor àqueles que sofrem. 

No entanto, os sistemas de saúde são um obstáculo. “Ainda que a Dinamarca se orgulhe de seu sistema de saúde, gratuito e acessível a todos, quando se trata de doença mental essa igualdade é uma ilusão”, disse ele. “Por isso”, acrescentou, “a Dinamarca tem investido maciçamente em capacitação e intensificado o treinamento de pessoal, mas planeja fazer mais, inclusive ampliar o direito a diagnósticos rápidos e disponibilizar tratamentos especializados em local próximo de onde o paciente vive”. 

A chava para vencer a depressão

Tive a sorte de conseguir apoio no trabalho quando precisei ausentar-me por causa da depressão. Agora sou presidente da rede de bem-estar mental, e o Tesouro aderiu à campanha Time to Change, que teve enorme sucesso e apoio dos níveis hierárquicos superiores, o que é um sinal muito importante. 

David Kinder

“Um local de trabalho que garanta apoio é absolutamente vital para ajudar os funcionários com problemas de saúde mental”, disse David Kinder, vice-diretor de Força de Trabalho, Pagamentos e Pensões do Grupo de Gastos Públicos do Tesouro de Sua Majestade, aos delegados. 

Ele descreveu a própria batalha contra a depressão e a forma como a reação de seu chefe imediato foi imensamente importante. No início, receou que o diagnóstico pudesse significar o fim de sua carreira, mas o chefe deu a resposta perfeita e disse: “Nós reconhecemos seu valor, nós o apoiamos e queremos que você volte, mas leve o tempo que for necessário”. Ele voltou a trabalhar gradualmente, porém alguns meses mais tarde teve uma recaída. Mais uma vez, recebeu apoio e retomou seu trabalho aos poucos. 

Isso aconteceu em 2009, e foi seu último episódio importante. O Sr. Kinder disse aos delegados que a prática de meditação, de dieta e de exercícios o ajudou a recuperar-se, mas tão importante quanto tudo isso é o modo como administra seu ambiente de trabalho, onde pode delegar e obter feedback, bom ou mau, dos superiores imediatos; assim, não teme o pior automaticamente.

O Sr. Kinder é atualmente presidente da Rede de Bem-Estar Mental do Tesouro e procura ajudar aqueles que estão em situação semelhante. 

A sobrecarga do peso: o ônus da depressão

O setor e os investidores devem ser incentivados a empreender pesquisas sobre saúde mental e depressão como o principal desafio para o futuro da área de saúde. 

Hans-Ulrich Wittchen

Hans-Ulrich Wittchen, presidente e diretor do Instituto de Psicologia Clínica e Psicoterapia do Centro de Epidemiologia Clínica e Estudos Longitudinais (CELOS) da Universidade Técnica de Dresden, estudou o ônus da doença. O ônus é um conceito complexo, de diferentes conotações, que abrange o impacto para o paciente, o cuidador, o sistema de saúde, a sociedade e a economia. Ele enfatiza, entretanto, que essa palavra deve ser usada com cautela: não é o paciente que representa um ônus. 

Os transtornos mentais são os mais debilitantes e incapacitantes de todos os grupos de doenças, e as estimativas atuais já excedem as projeções para 2030 da OMS, afirmou ele. Não conseguimos eliminar esse ônus, embora existam meios diagnósticos, medicamentos e tratamentos psicológicos disponíveis. Somente de 30% a 52% dos pacientes têm contato com algum profissional de saúde, e apenas de 8% a 16% têm contato com um especialista em doenças mentais; além disso, só cerca de 10% deles recebem tratamento minimamente adequado. De modo geral, esse tratamento começa tarde demais, em média três anos após o início da doença, por isso costumam ocorrer complicações graves, como aumento de comorbidades, cronicidade ou tentativas de suicídio. 

Ainda que o número absoluto de casos tenha subido, não há evidências de que as taxas de depressão tenham aumentado nas duas últimas décadas. “Contudo, a situação deve piorar por causa do envelhecimento da população”, disse ele. 

A cada ano, 38,2% da população da União Europeia sofre, pelo menos por certo tempo, de algum transtorno mental definido pelos critérios diagnósticos do DSM-IV.

Em 2010, 148 milhões de dias de trabalho foram perdidos por mês devido à depressão. 

Em termos do impacto financeiro da depressão, os custos indiretos respondem por mais de 63%. Muito menos se deve aos custos do tratamento direto (psicoterapia: cerca de 1%; medicação: 3,5%).

Como entender a complexidade da depressão

Embora hoje nosso conhecimento sobre depressão seja muito grande, a natureza complexa dessa doença tem gerado muita confusão a respeito do que ela é – e do que não é. 

Simon Wessely, professor de Medicina Psicológica do Instituto de Psiquiatria do King’s College, verificou como os profissionais de saúde mental têm sido criticados por tratar emoções normais como patologias. Segundo ele, a classificação controversa dos transtornos mentais do DSM-V, publicado pela Associação Americana de Psiquiatria, serve de munição aos críticos. Hoje rotulamos desnecessariamente as pessoas: as crianças não são mais tímidas, elas têm “fobia social”. “Esse é um problema, pois não conseguimos tratar como deveríamos todas as pessoas com diagnóstico de doença mental grave no Reino Unido”, acrescentou. 

O número cada vez maior de prescrições de antidepressivos está relacionado a esse fato. 

O professor Wessely disse que, embora as prescrições de antidepressivos tenham subido para mais de 50 milhões no Reino Unido, não se sabe quantas pessoas tomam esses medicamentos; o aumento das prescrições provavelmente se deve ao fato de que esses fármacos precisam ser tomados durante seis meses. Não é verdade que os clínicos gerais, pressionados pelo tempo, os prescrevam como uma solução rápida, embora em algumas áreas não existam muitos tratamentos alternativos. 

Há mais de uma década não é lançado no mercado um novo antidepressivo. Dada sua natureza heterogênea, os delegados levaram em consideração alguns dos desafios envolvidos no tratamento da depressão. 

Enfrentar – como a depressão deve ser tratada em todas as esferas da sociedade no século 21?

O desafio é a forma como, em uma sociedade com poucos recursos financeiros, em que a depressão ainda é um estigma, poderemos equiparar a saúde mental com a saúde física. O suicídio mata tanto quanto o câncer. 

David Haslam

“Nenhum fármaco consegue tratar tudo”, disse David Nutt, presidente do Conselho Europeu do Cérebro (EBC). Em seu trabalho como psiquiatra, ele tratou de pessoas com depressão resistente, muitas das quais cometeram suicídio. “Existe uma proporção significativa de pessoas para as quais os medicamentos atuais não funcionam, não importa que tenham iniciado logo ou que sigam corretamente o tratamento”, disse ele. “Precisamos encontrar meios mais sofisticados de identificar as vulnerabilidades de determinados indivíduos.” Como neurocientista do Imperial College London, o professor Nutt estuda imagens do cérebro e a química da depressão. “Isso poderia ajudar a determinar como diferentes pacientes podem responder ao tratamento, mas tudo ainda é muito incipiente, e não temos todo o apoio que deveríamos”, explicou. 

Anders Gersel Pedersen, vice-presidente executivo de Pesquisa e Desenvolvimento da H. Lundbeck, falou sobre as dificuldades da pesquisa de medicamentos, visto que a depressão pode manifestar-se de diferentes maneiras. Não apenas o humor do paciente é afetado, mas também suas habilidades intelectuais e cognitivas. Uma doença tão heterogênea é difícil de tratar com um único fármaco. 

Há grande necessidade não atendida de tratamento da depressão, com defasagem de mais de 50%; no entanto, a sociedade ainda se mostra relutante em aceitar um fármaco que não resolva o problema como um todo. “Precisamos usar o que temos em mãos para tratar alguns aspectos da doença enquanto procuramos uma maneira inteligente de avançar”, disse ele. 

O Dr. Pedersen acrescentou que ainda passará muito tempo até o surgimento de uma ferramenta sofisticada que ajude a compreender por que um fármaco funciona para um paciente, mas não para outro. 

David Haslam, presidente do National Institute for Health and Care Excellence, disse que o problema reside no fato de que ainda estamos longe de compreender um espectro tão complexo que vai da infelicidade à depressão clínica. Não existe um exame de sangue simples que possa ser feito para confirmar o diagnóstico. Os clínicos gerais estão, portanto, na indesejável posição de receber críticas por subdiagnosticar ou superdiagnosticar a depressão. “Ainda há muito por fazer. É hora de evoluir para um futuro em que a qualidade de vida dos pacientes que sofrem de depressão seja melhor e o impacto econômico dessa doença se minimize.”

Combater a depressão – razão para a prevenção da saúde na depressão

Christopher Dowrick, professor de Cuidados Médicos Básicos da Universidade de Liverpool, acredita que, no Ocidente, haja tendência ao superdiagnóstico. Os clínicos gerais têm 50% mais probabilidade de diagnosticar a depressão quando ela não existe do que de identificar corretamente um caso ou deixar de diagnosticar a depressão quando ela de fato existe. Em um estudo americano, apenas um terço dos clínicos que identificaram a depressão atendeu aos critérios diagnósticos formais. “Nós também medicamos demais: 11% dos americanos com 12 anos de idade ou mais tomam antidepressivos”, argumentou. “Somente nos casos de depressão grave eles são comprovadamente melhores que placebo”, explicou. “Ainda que a sociedade precise reconhecer aqueles que sofrem de depressão leve ou apresentam sintomas relacionados a perdas, devem-se incentivar estratégias eficazes que facilitem a recuperação pessoal”, disse ele. 

Saúde é riqueza e requer investimento. 

Mary G. Baker

Vários delegados argumentaram que a depressão deveria ser tratada holisticamente. “Permitiu-se que a sociedade separasse mente e corpo, quando ambos têm impacto um sobre o outro”, disse Mary G. Baker, última ex-presidente do Conselho Europeu do Cérebro. George N. Christodoulou, presidente da Federação Mundial de Saúde Mental, concordou e disse que deveríamos lembrar o que Hipócrates nos ensinou, ou seja, a necessidade de tratar a pessoa, e não apenas a doença. 

A conferência considerou o papel das estratégias de prevenção. Ulrich Hegerl, presidente da Aliança Europeia contra a Depressão, falou sobre o sucesso de sua estratégia de intervenção baseada na comunidade, implementada em mais de 100 regiões da Europa, que obteve redução de 20% da taxa de suicídios. O programa inclui mais treinamento em atendimento primário, uma campanha de conscientização do público e workshops feitos na comunidade com grupos, tais como professores, policiais e padres, que possam ajudar as pessoas em risco. 

As pessoas com doença mental grave morrem 20 anos antes do que a população geral e têm menos probabilidade de receber ajuda em questões como deixar de fumar. 

O problema da depressão no local de trabalho

Como a depressão pode ser desencadeada por um ambiente de trabalho estressante e acarreta custos enormes em termos de perda de produtividade, as empresas têm responsabilidade moral e o dever comercial de solucionar a questão. 

Lorde Dennis Stevenson, fundador e presidente da instituição beneficente MQ: Transforming Mental Health, que já foi vítima da depressão, disse aos delegados que as empresas ainda não fazem o suficiente. Embora algumas grandes companhias venham investindo dinheiro nisso, ainda são a minoria, e muitas só estão “fazendo de conta” que apoiam a questão, disse ele. As pequenas empresas enfrentam problemas porque simplesmente não têm recursos. 

Lorde Stevenson recomendou a elaboração de um manual criterioso, baseado em evidências, para orientar as empresas. Seus tópicos seriam: como criar uma cultura em que as pessoas reconheçam a doença mental; como encontrar os recursos certos no NHS; e como avaliar a adequação e a eficácia da terapia prescrita em relação a cada pessoa. 

“Os empregadores devem fazer mais”, concordou Elisabeth Svantesson, vice-presidente do Comitê de Seguro Social do Parlamento da Suécia. “O trabalho é mais estressante do que nunca, com papéis e tarefas menos definidos”, disse ela. Há também grande pressão para que as pessoas estejam disponíveis 24 horas por dia, sete dias por semana. 

“Um ambiente de trabalho saudável é uma situação em que todos saem ganhando, empresas e trabalhadores”, concluiu ela. Mas sua implementação é complicada. A legislação é obtusa e lenta, e pode ser difícil aplicá-la no caso da depressão. Existem normas de saúde e segurança no trabalho sobre níveis máximos de ruído, mas como legislar sobre níveis excessivos de estresse?

Enfrentar a depressão e provocar uma resposta global para uma crise global de saúde pública

Solicitou-se aos delegados que avaliassem as lições que se pode tirar da abordagem da depressão. 

As pessoas ficam incapacitadas por décadas na fase mais importante de sua vida. 

Patrick McGorry

A Austrália tem avançado na área de saúde mental de pessoas jovens. Patrick McGorry, professor do Centre for Youth Mental Health, da Universidade de Melbourne, disse que os problemas de desenvolvimento que os adolescentes enfrentam em sua transição para a idade adulta são negligenciados. Isso ocorre quando os problemas de saúde mental surgem pela primeira vez e são tomados por abuso de álcool ou de drogas. O professor McGorry mencionou um novo projeto australiano, chamado Headspace, que visa à solução de algumas dessas questões. O serviço, que atende pessoas de 12 a 25 anos de idade, tem especialistas à disposição, mas foi projetado para atuar mais como um centro para a juventude cujo objetivo é ajudar a resolver os problemas que os jovens apresentam em vez de rotulá-los como “transtornos”. 

Linda Rosenberg, presidente e diretora executiva do Conselho Nacional de Saúde Comportamental dos EUA, falou sobre a forma como o ativismo foi bem-sucedido nos EUA. Em 2008, por exemplo, foi aprovada uma lei que determina que as companhias de seguro devem tratar a doença mental e as dependências do mesmo modo como tratam a assistência médica geral. Acrescentou ainda que foram investidos US$ 7 bilhões em saúde mental para expandir o acesso ao tratamento e que já existe uma iniciativa de obtenção de acesso no mesmo dia. Um programa de treinamento sobre primeiros socorros em saúde mental também instrui cerca de 1.000 pessoas por dia. “Mesmo assim, é preciso mais trabalho de equipe para tratar dos problemas sociais, psicológicos e de saúde”, disse ela. 

Francesca Colombo, chefe da Divisão de Saúde da OCDE, apontou a necessidade de considerar todos os fatores na abordagem da questão. Disse que um dos maiores desafios é o fato de que os sistemas de saúde não levam em conta o problema das comorbidades e se voltam para doenças específicas e agudas. Ela também demonstrou preocupação com a falta de coordenação entre os serviços de saúde e o emprego, visto que as pessoas deprimidas têm mais probabilidade de faltar ao trabalho e são menos produtivas. 

Os transtornos mentais custam aos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) até 4% do PIB. 

Cerca de 70% dos pacientes deprimidos têm uma comorbidade.

A defasagem do tratamento da depressão é de 56%. 

Chamado para acordar a sociedade

Devido à própria experiência com a depressão, o escritor e estrategista Alastair Campbell tornou-se um ativista em questões de saúde mental. 

“Quando a doença ataca”, diz ele, “é como se uma força externa mortal enchesse suas veias de chumbo”. A depressão “afeta tudo”, e realizar as tarefas diárias é como escalar uma montanha. 

A redução das verbas destinadas à saúde mental leva ao declínio da saúde mental de uma nação, de modo que acabamos por gastar mais não apenas no NHS como também nos tribunais e nos serviços da polícia.

Alastair Campbell

O Sr. Campbell chegou à conclusão de que a depressão é uma doença; assim como ocorre com o câncer e a asma, algumas pessoas têm esse transtorno, enquanto outras não o experimentam. Não houve nada em sua infância que explicasse essa visão negativa, segundo ele. Atualmente a medicação, o esporte e o apoio da família e dos amigos o ajudam a controlar a doença. 

Agora quer acabar com o estigma da depressão. As pessoas ainda veem essa doença como uma opção de estilo de vida ou como mau humor. Há aqueles que perguntam: “O que aconteceu para que você ficasse deprimido?” 

“A depressão é o último grande tabu; se analisarmos as grandes campanhas, como a dos direitos dos homossexuais e as de igualdade racial e sexual, veremos que as pessoas tomaram a iniciativa de fazer a mudança acontecer”, disse ele. Campbell insiste que não se trata de falar sobre sua depressão, mas vê isso como uma responsabilidade: ajudar a fazer a diferença. 

“O custo da depressão não é enorme apenas para o indivíduo, mas também para as empresas e a economia como um todo”, acrescentou. “Os governos e as empresas devem trabalhar juntos. A saúde mental deve ter a mesma prioridade da saúde física, e precisamos dar-lhe a devida importância.” 

O suicídio é atualmente a principal causa de morte de homens jovens na Grã-Bretanha.