Por que a enxaqueca não é apenas uma forte dor de cabeça?

Dores de cabeça incapacitantes recorrentes acompanhadas de sintomas neurológicos desorientadores impedem a vida cotidiana pessoal, social e profissional de pacientes com enxaqueca. A enxaqueca não é apenas uma dor de cabeça – é um transtorno neurológico crônico incapacitante que envolve vias nervosas e neuropeptídeos, afirmou o professor Dawn Buse da Yeshiva University (Universidade Yeshiva), NY, no Scottsdale Headache Symposium (Simpósio sobre Dor de Cabeça de Scottsdale) – e o diagnóstico e tratamento precoces resultam em menor incapacitação associada à enxaqueca.

A enxaqueca afeta mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo,1-3 é a sexta doença mais comum e a segunda mais incapacitante,1, 4 além de ser a principal causa de perda de anos por incapacidade (PAI) para pessoas de 15 a 49 anos.4 Nos Estados Unidos, ela é mais comum em mulheres do que em homens, sendo a dor de cabeça a terceira principal causa de consultas aos departamentos de emergência entre mulheres na pré-menopausa,5 disse o professor Buse.

Seis tipos diferentes de enxaqueca

A Classificação Internacional de Cefaleias, Versão 3 (ICHD-3; www.ichd-3.org),6 descreve seis diferentes tipos de enxaqueca, explicou Elizabeth Loder, professora de Neurologia da Harvard Medical School e chefe da Divisão de Dor de Cabeça do Brigham and Women’s Hospital, de Boston, MA. Esses tipos, para os quais podem haver subtipos e subformas, são:

  • enxaqueca sem aura (conhecida anteriormente como enxaqueca comum)
  • enxaqueca com aura (conhecida anteriormente como enxaqueca clássica)
  • enxaqueca crônica
  • complicações de enxaqueca
  • enxaqueca provável
  • síndromes episódicas que podem estar associadas à enxaqueca.

A professora Loder comentou que o ICHD-3 possui uma melhora acentuada em relação às versões anteriores; porém, é importante observar que sua validade biológica é incerta e há ausência de alguns aspectos característicos, tais como osmofobia, características prodrômicas e fatores de ativação e de alívio.

Enxaqueca sem aura (ICHD-3)

A enxaqueca sem aura frequentemente está relacionada ao ciclo menstrual

Um diagnóstico de enxaqueca sem aura é baseado em pelo menos cinco ataques de dor de cabeça com duração de 4 a 72 horas, associados a:

  • pelo menos duas das quatro características a seguir –unilateral, pulsante, de intensidade moderada ou grave, agravadas por atividade física rotineira
  • náusea e/ou vômito ou fotofobia e fonofobia (aversão a sons altos)

Se um paciente adormecer durante um ataque, a duração é registrada como o tempo até o despertar.

Enxaqueca com aura (ICHD-3)

A enxaqueca com aura pode estar associada a sintomas prodrômicos e posdrômicos

Um diagnóstico de enxaqueca com aura é baseado em pelo menos dois ataques associados a:

  • um ou mais sintomas de aura totalmente reversíveis: visual, sensorial, de fala e/ou de linguagem, motora, do tronco cerebral ou da retina – a aura visual é o tipo mais comum, ocorrendo em mais de 90% dos pacientes
  • pelo menos três das seis características a seguir – ao menos um sintoma de aura estendendo-se gradualmente por, pelo menos, 5 minutos; dois ou mais sintomas de aura sucessivos; cada sintoma de aura individual com duração de 5 a 60 minutos (os sintomas motores podem durar até 72 horas); ao menos um sintoma de aura unilateral; ao menos um sintoma de aura positivo (p. ex., cintilações e parestesias); dores de cabeça que acompanham ou ocorrem em 60 minutos após a aura

Sintomas prodrômicos – p. ex., fadiga, dificuldade de concentração, rigidez do pescoço, sensibilidade à luz e/ou ao som, náusea, visão turva, bocejo e palidez – podem preceder um ataque de enxaqueca com aura em horas ou em um ou dois dias antes dos outros sintomas.

Sintomas posdrômicos – mais comumente fadiga e humor exaltado ou deprimido – podem seguir a resolução da dor de cabeça e persistir por até 48 horas.

A enxaqueca do tronco cerebral com aura é um subtipo de enxaqueca com aura

A enxaqueca do tronco cerebral com aura, um subtipo de enxaqueca com aura, é diagnosticada no caso de haver pelo menos dois ataques de dor de cabeça associados a:

  • sintomas visuais, sensoriais, de fala e/ou de fala/linguagem totalmente reversíveis, mas sem sintomas motores, de tronco cerebral ou da retina
  • pelo menos dois dos sete sintomas do tronco cerebral totalmente reversíveis, a seguir – disartria, vertigem, zumbido, hipoacusia, diplopia, ataxia e diminuição do nível de consciência
  • pelo menos duas das quatro características a seguir – ao menos um sintoma de aura estendendo-se gradualmente por, pelo menos, 5 minutos e dois ou mais sintomas de aura sucessivos; sintomas de aura individuais com duração de 5 a 60 minutos; ao menos um sintoma de aura unilateral; dor de cabeça que acompanha ou ocorre em 60 minutos após a aura

Os sintomas autonômicos acompanham algumas dores de cabeça em até 50% dos pacientes com enxaqueca

Enxaqueca crônica (ICHD-3)

A enxaqueca crônica é diagnosticada quando a dor de cabeça do tipo enxaqueca ou do tipo tensão, por pelo menos 15 dias/mês, durante mais de 3 meses está associada a:

  • pelo menos cinco ataques que cumprem os critérios de diagnóstico de enxaqueca com ou sem aura
  • características diferentes da duração que atendem aos critérios de diagnóstico de enxaqueca com ou sem aura, ou quando acredita-se que o paciente apresenta enxaqueca no início e que seja aliviada por um “triptano” ou um derivado “ergot”, em pelo menos 8 dias/mês por mais de 3 meses6

A causa mais comum de sintomas sugestivos de enxaqueca crônica é o uso excessivo de medicamentos

O uso excessivo de medicamentos é a causa mais comum de sintomas sugestivos de enxaqueca crônica, e cerca de 50% dos pacientes com diagnóstico aparente de enxaqueca crônica voltam a um tipo de enxaqueca episódica após a retirada do medicamento.

 

O tratamento precoce e eficaz resulta em menor incapacitação associada à enxaqueca

O “sistema de semáforo” para dores de cabeça, que descreve a incapacidade associada ao ataque de enxaqueca – sendo verde (“ainda posso seguir”), amarelo (“devo desacelerar”), vermelho (“devo parar”)7 — facilita o tratamento eficaz precoce, disse a professora Christine Lay, da Universidade de Toronto, Canadá.

A professora Stephanie Nahas, da Universidade Thomas Jefferson, Filadélfia, PA, destacou a importância do tratamento preventivo para:

A enxaqueca é um transtorno neurológico que envolve vias nervosas e substâncias químicas cerebrais

  • reduzir a frequência, a gravidade e a duração do ataque
  • melhorar a capacidade de resposta ao tratamento de ataques agudos
  • melhorar a função e reduzir a incapacidade e os custos
  • prevenir a progressão da doença

As medidas preventivas de estilo de vida incluem sono regular, exercícios e pequenas refeições, além da prevenção de gatilhos identificáveis (hormonais e relacionados ao sono, estresse, esforço e ambiente).

40% dos pacientes podem ser elegíveis para terapia preventiva; todavia, apenas 13% recebem essa terapia8

Enquanto isso, os mais recentes estudos clínicos de prevenção da enxaqueca estão avaliando os perfis de risco-benefício dos anticorpos peptídicos relacionados ao gene da calcitonina, em comparação com as terapias atualmente recomendadas para a prevenção da enxaqueca.9

Our correspondent’s highlights from the symposium are meant as a fair representation of the scientific content presented. The views and opinions expressed on this page do not necessarily reflect those of Lundbeck.

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Referências

  1. GBD. Lancet. 2018;392:1789-1858. 
  2.  IHME. Data search tool. ghdx.healthdata.org/gbd-results-tool. Accessed October 10, 2019
  3. Vos T, et al. Lancet 2017;390:1211–59.
  4. Steiner T, et al. J Headache Pain 2018;19:17–21.
  5. Burch R, et al. Headache 2018;58(4):496–505.
  6. Classification Committee of The International Headache Society. Cephalalgia 2018;1:1–211.
  7. Lagman-Bartolome M, Lay C. Headache 2019;59:250–2.
  8. Vo P, et al. Cephalalgia. 2019;39(5):608–16.