50 tons de cinza: O espectro ON e OFF na doença de Parkinson

Em um simpósio satélite realizado no Congresso da Sociedade de transtorno do movimento (MDS, Movement Disorder Society) de 2019, o professor Hubert Fernandez, da Faculdade de Medicina Lerner, de Cleveland (EUA), disse que o nosso conhecimento do espectro de sintomas da doença de Parkinson (DP) se expandiu desde o reconhecimento dos estados ON e OFF apresentados por C. David Marsden em 1976. Agora, reconhecemos que a DP não é simplesmente preto e branco, mas existem mais de 50 tons de estados intermediários cinzentos com múltiplas possibilidades de flutuações de sintomas motores e não motores, ele explicou.1,2

Mais de 50% dos pacientes desenvolvem flutuações em resposta ao levodopa após 5 a 10 anos de tratamento,3,4 os quais consideram os mais incômodos, afetando amplamente a qualidade de vida.5,6

A doença de Parkinson não é simplesmente preto e branco; existem mais de 50 tons de estados intermediários cinzentos com múltiplas possibilidades de flutuações de sintomas motores e não motores

Os sintomas OFF continuam sendo pouco reconhecidos1 devido a uma combinação de fatores, incluindo a falta de uma definição consensual e a ênfase nas definições baseadas apenas nos sintomas motores, deixando de fora os “estados de transição”.

 

Uma nova definição do momento OFF

Uma nova definição do momento OFF foi proposta como: uma mudança temporária do estado clínico em um paciente com DP que é percebida negativamente em comparação com os efeitos benéficos do tratamento da DP, caracterizada por sintomas motores e/ou não motores – cuja combinação e gravidade são únicas para cada paciente – e incorporar todos os termos anteriores usados para descrever vários estados OFF como parte do espectro OFF. Essa definição prática de OFF pode ajudar a melhorar o reconhecimento clínico de sintomas OFF e levar a benefícios significativos para os pacientes.7

Uma nova definição prática do momento OFF pode ajudar a melhorar o reconhecimento clínico de sintomas OFF e levar a benefícios significativos para os pacientes

 

Sintomas não motores no cerne da sintomatologia na DP

Atualmente, é reconhecido que os sintomas não motores estão no centro da DP,8,9 disse o professor Per Odin, da Universidade de Lund, Suécia, em sua palestra focando no curso temporal das complicações não motoras. Sintomas não motores podem aparecer precocemente no curso da doença e podem até preceder os sintomas motores.8,10

Os sintomas não motores são na sua maioria progressivos11 e são um importante fator determinante da qualidade de vida, com depressão e sono tendo o maior impacto.12 Os padrões de flutuação de sintomas não motores na DP são heterogêneos e complexos13 e uma nova escala de classificação – a escala de sintomas não motores da MDS (MDS-NMSS, non-motor symptoms scale) – agora capta flutuações nos sintomas não motores.14

As flutuações de sintomas não motores na DP são heterogêneas e complexas, e podem ser captadas por uma nova escala de classificação – a MDS-NMSS

O tratamento atual de sintomas não motores é limitado e o desenvolvimento de novos tratamentos é uma prioridade a ser pesquisada.15

 

Sintomas motores podem ocorrer no início da DP

As flutuações motoras e discinesia podem ser detectadas mesmo nos estágios iniciais da DP,17 disse o professor Joaquim Ferreira, da Universidade de Lisboa, Portugal e o fenômeno de “perda de eficácia” não está limitado ao tratamento com levodopa, mas podem ocorrer naturalmente como consequência da duração da doença.18 Embora não existam marcadores da progressão tardia da doença,19 sabemos que pacientes com a fase tardia da DP ainda respondem ao tratamento com levodopa.20

As flutuações motoras e discinesia podem ser detectadas mesmo nos estágios iniciais da DP

Em resumo, o professor Ferreira citou a recente descoberta  que características não motoras da DP, principalmente baixo sintoma de humor e ansiedade, são fatores de risco significativos para complicações motoras.21 Assim, os sintomas não motores e motores da DP estão inexplicavelmente ligados e o melhor indicador de complicações motoras pode ser a gravidade da neurodegeneração.

Este artigo destaca informações apresentadas durante um simpósio satélite no Congresso MDS de 2019, “Para além da perda de eficácia motora: O que estamos deixando passar?”, patrocinado pela BIAL.

Our correspondent’s highlights from the symposium are meant as a fair representation of the scientific content presented. The views and opinions expressed on this page do not necessarily reflect those of Lundbeck.

Cloned Date
2019/09/26 08:09:24
Clone source Id
5127
Clone source uuid
4fc307a6-087d-4320-af11-452f45bd3130

Referências

1. Stacy M et al. Identification of motor and nonmotor wearing-off in Parkinson's disease: comparison of a patient questionnaire versus a clinician assessment. Mov Disord. 2005;20(6):726-33.

2. Espay AJ. Management of motor complications in Parkinson disease: current and emerging therapies. Neurol Clin. 2010;28(4):913-25.

3. Rascol O et al. Limitations of current Parkinson's disease therapy. Ann Neurol. 2003;53(Suppl 3):S3-12.

4. Poewe W. The natural history of Parkinson's disease. J Neurol. 2006;253(Suppl 7):VII2-6.

5. Politis M et al. Parkinson's disease symptoms: the patient's perspective. Mov Disord. 2010;25(11):1646-51.

6. Hassan A et al. What are the issues facing Parkinson's disease patients at ten years of disease and beyond? Data from the NPF-QII study. Parkinsonism Relat Disord 2012;18:S10-S14.

7. Chou KL et al. The spectrum of "off" in Parkinson's disease: What have we learned over 40 years? Parkinsonism Relat Disord. 2018;51:9-16.

8. Lee HM et al. Many Faces of Parkinson's Disease: Non-Motor Symptoms of Parkinson's Disease. J Mov Disord. 2015;8:92-97.

9. Chaudhuri KR et al. International multicenter pilot study of the first comprehensive self-completed nonmotor symptoms questionnaire for Parkinson's disease: the NMSQuest study. Mov Disord. 2006;21:916-233.

10. Schrag A et al. Prediagnostic presentations of Parkinson's disease in primary care: a case-control study. Lancet Neurol 2015;14:57-64.

11. Schapira AHV. Non-motor features of Parkinson’s disease. Nat Rev Neurosci 2017;18:435-50.

12. Martinez-Martin P et al. The impact of non-motor symptoms on health-related quality of life of patients with Parkinson's disease. Mov Disord 2011;26:399-406.

13. Storch A et al. Nonmotor fluctuations in Parkinson disease: severity and correlation with motor complications. Neurology. 2013;80(9):800-9.

14. Martinez‐Martin P et al. Pilot Study of the International Parkinson and Movement Disorder Society‐sponsored Non‐motor Rating Scale (MDS‐NMS). Mov Disord Clin Pract 2019;6(3):227-34.

15. Seppi K et al. Update on treatments for nonmotor symptoms of Parkinson's disease-an evidence-based medicine review. Mov Disord. 2019;34(2):180-198.

16. Dafsari HS et al. EuroInf 2: Subthalamic stimulation, apomorphine, and levodopa infusion in Parkinson's disease. Mov Disord. 2019;34(3):353-65.

17. Fahn S et al. Levodopa and the progression of Parkinson’s disease. N Engl J Med. 2004;351:2498-508.

18. Cilia R. et al. The modern pre-levodopa era of Parkinson’s disease: insights into motor complications from sub-Saharan Africa. Brain. 2014; 137(10): 2731-42.

19. Coelho M et al. Late-stage Parkinson's disease: the Barcelona and Lisbon cohort. J Neurol. 2010;257(9):1524-32.

20. Fox SH et al. International Parkinson and movement disorder society evidence-based medicine review: Update on treatments for the motor symptoms of Parkinson's disease. Mov Disord. 2018;33(8):1248-66.

21. Kelly MJ et al. Predictors of motor complications in early Parkinson's disease: A prospective cohort study. Mov Disord. 2019;34(8):1174-83.