Recentes descobertas de pesquisa sobre depressão apresentadas na sessão de posteres no APA Online 2022 (Encontro Anual da Associação Americana de Psiquiatria) abordaram tópicos incluindo o uso de dispositivos eletrônicos vestíveis, resposta ao tratamento antidepressivo, disfunção cognitiva associada à depressão e segmentação de redes de relevância.
Os dispositivos eletrônicos vestíveis podem melhorar os resultados de saúde mental?
A atividade física melhora os resultados de saúde mental, mas muitas pessoas que vivem com doenças mentais não praticam atividade física. Onyeaka e colegas1 investigaram o potencial de dispositivos eletrônicos vestíveis (tradução livre do termo em inglês para Eletronic Wearable Devices - EWDs) para promover a atividade física em pessoas que vivem com doenças mentais em um ambiente do mundo real. Estudos anteriores foram, em geral, pequenos e limitados a ambientes de internação. Eles usaram dados da Pesquisa Nacional de Tendências de Informações de Saúde (Health Information National Trends Survey) de 2019 para estudar uma amostra de 1139 adultos com depressão e ansiedade autorreferidas. Os resultados mostraram que 28,1% usaram um EWD no último ano e, após o ajuste para covariáveis, isso foi significativamente associado a maiores chances de relatar intenção de perder peso (Razão de Probabilidade 2,12; Intervalo de Confiança 1,04; 4,35; p=0,04). Os autores concluíram que os EWDs podem servir como uma abertura para os clínicos discutirem a saúde física e identificarem pacientes preparados para mudanças comportamentais.
Dispositivos eletrônicos vestíveis podem identificar pacientes preparados para mudança de comportamento
Diferentes respostas ao tratamento antidepressivo
Xu et al.2 estudaram mudanças nos sintomas de depressão e ansiedade em 577 pacientes que iniciaram o tratamento antidepressivo, com medidas repetidas das pontuações do Questionário de Saúde do Paciente-9 (PHQ-9) e do Transtorno de Ansiedade Generalizada (GAD-7) ao longo de 12 semanas. Eles usaram modelagem de trajetória baseada em grupo para identificar seis subgrupos – três mostrando resposta e três não respondedores ao tratamento antidepressivo. Um dos subgrupos de resposta apresentava depressão grave no início (linha de base) (n=49 [8,5%]) e mostrou uma melhora constante nos sintomas, enquanto os outros dois grupos (n=93 [16,1%] e n=106 [18,4%]) apresentavam sintomas basais moderados e demonstraram uma resposta e remissão mais rápidas. Dos três subgrupos de não respondedores, dois apresentavam sintomas depressivos basais moderados (n=137 [23,7%] e n=130 [22,5%]) e um (n=62 [10,8%]) sintomas depressivos basais graves. O grupo concluiu que os padrões de trajetória observados foram exemplos dos vários tipos de respostas que podem ocorrer ao tratamento antidepressivo.
Os padrões de trajetória observados foram exemplos dos várias tipos de respostas que podem ocorrer ao tratamento antidepressivo
O hipocampo e a disfunção cognitiva associada à depressão
Diego Garces Grosse3 resumiu os achados da pesquisa atual sobre disfunção cognitiva em pacientes com depressão, um sintoma comum que muitas vezes pode ser ignorado. Estudos de imagem mostraram volume reduzido do hipocampo e córtex pré-frontal medial na depressão, embora não esteja claro se isso é causa ou efeito. O volume hipocampal é inversamente proporcional à duração e gravidade da depressão e ao número de episódios. A depressão também tem sido associada à redução da neurogênese e plasticidade neural, levando à atrofia estrutural. Os mecanismos propostos incluem desregulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, inflamação sistêmica e estresse oxidativo. Tanto as alterações estruturais quanto os sintomas de disfunção cognitiva podem ser revertidos após o tratamento da depressão.
Alterações cerebrais estruturais e sintomas de disfunção cognitiva podem ser revertidos após o tratamento da depressão
Direcionamento das redes de saliência na depressão e ansiedade
Sachdev e Amanullah4 revisaram a literatura atual sobre o papel das redes de saliência (salience netwroks) na previsão e melhoria dos resultados em pacientes geriátricos que sofrem de depressão ou ansiedade. As redes de saliência são compostas por uma série de estruturas cerebrais, incluindo a ínsula anterior e o cingulado anterior dorsal. Suas principais funções incluem a seleção de informações ambientais salientes e a segregação de estímulos internos e externos relevantes. Resultados preliminares dos poucos estudos disponíveis sugerem que depressão e ansiedade podem estar associadas a anormalidades dentro do domínio das redes de saliência, embora haja inconsistência sobre as alterações específicas. Se isso for confirmado em pesquisas futuras, os tratamentos podem ser direcionados às redes de saliência, incluindo jogos sérios, terapia cognitiva baseada em atenção plena e opções farmacológicas.
Depressão e ansiedade podem estar associadas a anormalidades dentro do domínio das redes de saliência.
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- Onyeaka H, Firth J, Enemuo SV, et al. Exploring the Association Between Electronic Wearable Device Use and Levels of Physical Activity Among Individuals With Depression and Anxiety: A Population Level Study. Poster presented at: American Psychiatric Association Annual Meeting; 2022 Jun 7-10; Virtual.
- Xu Z, Vekaria V, Wang F, et al. Changes in Depression and Anxiety Symptoms During Antidepressant Treatment in Adults. Poster presented at: American Psychiatric Association Annual Meeting; 2022 Jun 7-10; Virtual.
- Grosse DG. Depression induced cognitive dysfunction and changes in the hippocampus. Poster presented at: American Psychiatric Association Annual Meeting; 2022 Jun 7-10; Virtual.
- Sachdev A, Amanullah S. Tapping into Salience Networks: Can we Improve Outcomes of Depression or Anxiety in the Elderly? Poster presented at: American Psychiatric Association Annual Meeting; 2022 Jun 7-10; Virtual.