Os sintomas negativos da esquizofrenia não são apenas a tristeza e o pessimismo. Na verdade, como se observou durante a sessão satélite intitulada “Sintomas negativos e esquizofrenia: mecanismos fisiopatológicos e relevância em relação aos resultados funcionais”, realizada durante o congresso do ECNP 2016, em Viena, houve grande avanço no esclarecimento dos problemas subjacentes a esses sintomas.
Sintomas negativos:
dois conjuntos distintos
O conhecimento das causas e dos tratamentos dos sintomas negativos da esquizofrenia é um desafio, segundo Armida Mucci, da Itália. As pesquisas têm sido dificultadas pela forma como os pesquisadores têm classificado os sintomas negativos, considerados uma entidade única em vez de dois conjuntos distintos, a abulia e a dificuldade de se expressar, cujos mecanismos patológicos subjacentes são provavelmente diferentes. Essas diferenças entre os dois conjuntos de sintomas são exemplificadas pelo achado de que a abulia está muito correlacionada ao desempenho na vida cotidiana, ao contrário do comprometimento da expressão. Esse impacto da abulia no desempenho é independente da cognição social, da neurocognição e da capacidade funcional.
Concentração na abulia
Assim, para melhorar a funcionalidade do paciente no dia a dia, a pesquisa dos mecanismos fisiopatológicos da abulia, dos sintomas individuais que a constituem e das estratégias terapêuticas inovadoras deveria ser prioritária, sugere a Dra. Mucci.
Conectividade cerebral e sintomas negativos
Oliver Gruber, da Alemanha, comentou que a busca de conexões cerebrais alteradas, que formam a base dos sintomas negativos da esquizofrenia, por meio de técnicas de neuroimagem tem produzido resultados conflitantes, embora a pesquisa esteja orientada para aspectos mais específicos da doença. No entanto, diferentes achados evidenciam alterações da conectividade dos circuitos frontoestriadotalâmicos, frontotemporais e frontoparietais que contribuem para o desenvolvimento dos sintomas negativos e podem ter implicações interessantes para futuras pesquisas. Assim, são necessários estudos de ressonância magnética neurofuncional em modelos animais que permitam analisar esses circuitos.
Associações neurobiológicas e patológicas que provavelmente não são simples
A melhor compreensão dos endofenótipos poderia facilitar o desenvolvimento de futuros sistemas de diagnóstico psiquiátrico. Esses estudos deveriam ser realizados sem perder de vista a heterogeneidade da neurobiologia e a patogênese subjacentes às categorias diagnósticas baseadas nos fenótipos clínicos. Dessa forma, diferentes substratos patológicos localizados na mesma região do cérebro podem levar a sintomas semelhantes. De modo inverso, substratos patológicos idênticos localizados em regiões cerebrais diferentes podem produzir sintomas distintos.
É possível que os endofenótipos (como o comprometimento de respostas inerentes e aprendidas a estímulos de recompensa) estejam mais estreitamente relacionados a fatores patogênicos. Finalmente, isso pode oferecer uma perspectiva mais direta dos processos fisiopatológicos cerebrais relevantes. Assim, a melhor compreensão dos endofenótipos poderia guiar o desenvolvimento de futuros sistemas de diagnóstico em psiquiatria.
Quais são os tratamentos atuais para os pacientes que apresentam sintomas negativos primários e persistentes?
Andre Aleman, dos Países Baixos, afirmou que algumas intervenções não farmacológicas no tratamento dos sintomas negativos são promissoras. Os resultados dos estudos realizados até o momento, contudo, não são claros, sobretudo os de estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC). Ele sugeriu o uso de uma combinação de técnicas não invasivas de neuroestimulação, tais como a estimulação magnética transcraniana (EMT) ou a ETCC, em conjunto com abordagens psicossociais, para que os pacientes obtenham o maior benefício possível.
Embora sejam necessários mais estudos sobre a ETCC, com essa técnica e com a EMT ocorreram alguns avanços em relação à neurobiologia translacional. O Dr. Aleman concluiu que uma abordagem que combine EMT e técnicas de imagens cerebrais poderia abrir um campo de pesquisas novo e interessante.
Os receptores D3 podem ser úteis no tratamento dos sintomas negativos
Há uma clara necessidade ainda não atendida no tratamento da esquizofrenia com predominância e persistência de sintomas negativos. István Bitter, da Hungria, fez uma apresentação otimista sobre o tratamento farmacológico dos sintomas negativos. Os dados demonstrados sugerem que, apesar da grande heterogeneidade das populações analisadas e dos instrumentos de medição utilizados nos estudos sobre os sintomas negativos da esquizofrenia, tanto os sintomas negativos quanto os positivos e depressivos melhoraram no decorrer de um tratamento satisfatório da doença.
Existe clara necessidade de tratamento da esquizofrenia com predominância e persistência de sintomas negativos. Entretanto, embora os mecanismos patológicos dos sintomas negativos da esquizofrenia continuem sob investigação, o Dr. Bitter mostrou evidências que os fármacos que afetam a atividade dos receptores D3 podem ser úteis no tratamento.