Muitos pacientes com transtornos mentais graves apresentam fatores de risco comportamentais para doenças crônicas, que incluem redução da atividade física, dieta inadequada e altas taxas de tabagismo.1 Intervenções no estilo de vida, tais como exercícios físicos e apoio psicossocial, podem desempenhar importantes papéis na redução desses fatores de risco, conforme discutido neste simpósio do Congresso Europeu de Psiquiatria da Associação Europeia de Psiquiatria - EPA 2020.
Fatores de risco comportamentais para doenças crônicas levam a desfechos negativos
Ainda existem necessidades não atendidas significativas nos transtornos mentais graves
Ainda existem necessidades não atendidas significativas nos transtornos mentais graves. As taxas de recuperação são de apenas 15-45%2, com a disfunção cognitiva e sintomas negativos respondendo menos ao tratamento. A expectativa de vida é reduzida, em média, 12 anos, em comparação com a população em geral,3 e a taxa de mortalidade é o dobro.4 Os fatores de risco comportamentais podem ser acentuados pelos efeitos adversos metabólicos da medicação, e muitos desses fatores não possuem soluções fáceis.
Há necessidade de intervenções no estilo de vida comportamental
A prevenção e o tratamento de doenças crônicas são importantes para melhoria da expectativa de vida e das taxas de mortalidade
A prevenção e o tratamento de doenças crônicas são importantes para melhoria da expectativa de vida e das taxas de mortalidade. A inciativa “Um Projeto para Proteger a Saúde Física de Pessoas com Doenças Mentais” (do inglês – “A Blueprint for Protecting Health Physical Health in People with Mental Illness”)1 da Comissão de Psiquiatria da The Lancet e o “Ajudando pessoas com transtornos mentais graves a terem vidas mais longas e saudáveis“ (do inglês – “Helping people with severe mental disorders live longer and healthier lives”)5 da Organização Mundial da Saúde, salientam a importância das intervenções no estilo de vida e da colaboração entre profissionais de saúde, cuidadores e o paciente.
Efeitos positivos do exercício físico
Peter Falkai (Universidade de Munique, Alemanha) explicou como o exercício físico traz benefícios mentais e físicos. O estudo STRIDE6 demonstrou que uma intervenção no estilo de vida de pacientes em uso de antipsicóticos, envolvendo dieta e atividade física, levou à perda de peso e melhorou os níveis de glicose em jejum.
O treinamento de resistência associado à remediação cognitiva levou a melhorias significativas na cognição e na funcionalidade, bem como à redução dos sintomas negativos
Em pacientes com esquizofrenia, o exercício aeróbio demonstrou melhoria no desempenho cognitivo.7 Quando o treinamento de resistência (ciclismo) foi somado à remediação cognitiva, houve melhorias significativas na cognição e na funcionalidade, bem como redução nos sintomas negativos.8 O exercício tem efeitos na estrutura e função cerebrais, agindo por meio de vias sinápticas e neurogênicas, aumentando a plasticidade funcional.9
Demonstrar em estudos de grande escala o benefício das intervenções com exercícios é mais desafiador, sugerindo que a natureza da intervenção por meio de exercícios é importante. O estudo CHANGE, em pacientes com esquizofrenia e obesidade, mostrou que a orientação sobre estilo de vida associada à coordenação de cuidados levou a uma melhora significativa na cognição, uma melhora não significativa nos sintomas psicóticos e negativos, mas nenhuma redução nos fatores de risco cardiovasculares.10
O papel das intervenções psicossociais na adoção de um estilo de vida saudável
Garantir que qualquer intervenção psicossocial seja viável e eficaz em longo prazo, em estudos de mundo real
As intervenções psicossociais podem dar suporte aos pacientes na adoção de comportamentos saudáveis no estilo de vida.11 Martina Rojnic-Kuzman (Centro Hospitalar Universitário de Zagreb, Croácia) analisou se um extenso programa psicossocial multimodal em pacientes com primeiro episódio psicótico poderia influenciar o ganho de peso e anormalidades metabólicas, em comparação com a psicoterapia de apoio.12 Após acompanhamento de 18 meses, ambos os grupos apresentaram menos psicopatologias e pontuações de funcionalidade mais altas; todavia, os índices de massa corporal, lipídios e colesterol aumentaram.
Gaia Sampogna (Universidade da Campânia, Itália) enfatizou a importância de garantir que qualquer intervenção psicossocial seja viável e eficaz em longo prazo, em estudos de mundo real.11 Seu grupo está testando uma intervenção no estilo de vida, que inclui componentes informativos, motivacionais e de resolução de problemas.
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