Compreendendo a relação entre depressão e doenças cardíacas para melhorar o atendimento ao paciente

O transtorno depressivo maior (TDM) está associado a um risco aumentado de doença cardiovascular (DCV) e a DCV está associada a um risco aumentado de TDM. Por que isso? E quais são as implicações para fornecer um manejo ideal e melhorar os resultados para pacientes com TDM e DCV comórbidos na prática clínica? Esses tópicos foram explorados em uma apresentação do professor Andrea Fiorillo, Nápoles, Itália, no EPA 2022

TDM e DCV estão fortemente ligados

Até um em cada cinco pacientes cardíacos hospitalizados tem TDM

Pacientes com doença cardiovascular (DCV) são três vezes mais propensos a ter TDM do que a população geral;e entre os pacientes cardíacos hospitalizados até 20% atendem aos critérios psiquiátricos para TDM e até 20% apresentam sintomas depressivos,2 disse o professor Fiorillo. Além disso, o TDM aumenta o risco de desenvolver doença cardíaca isquêmica (razão de risco [HR] 1,63) e acidente vascular cerebral (HR 1,94).3

 

A associação bidirecional entre TDM e DCV

TDM e DCV são doenças sistêmicas que compartilham mecanismos de feedback interconectados

O maior risco de TDM subsequente entre os pacientes com DCV e o maior risco de DCV entre os pacientes com TDM levou os pesquisadores a sugerir uma associação bidirecional entre DCV e TDM,3 explicou o professor Fiorillo.

Fatores genéticos, hormonais e fisiológicos se sobrepõem na fisiopatologia do TDM e da DCV,4 mas, embora muitos mecanismos biológicos e comportamentais tenham sido investigados, nenhum deles parece representar mais do que uma pequena proporção do risco.5

Fatores ambientais compartilhados parecem ser o principal elo entre a DCV comórbida e o TDM

Análises de dados do UK Biobank mostraram que um escore de risco genético fortemente associado a um risco maior de doença coronariana não está associado a um risco aumentado de TDM.6 Em vez disso, as análises sugerem que fatores ambientais compartilhados são a principal ligação entre a DCV comórbida e o TDM, e que a interleucina-6, a proteína C reativa e os triglicerídeos estão causalmente ligados ao TDM.6

Tanto o TDM quanto a DCV são considerados síndromes sistêmicas com muitos mecanismos de feedback interconectados, envolvendo, por exemplo, cortisol, monaminas, volume hipocampal, neurodegeneração e privação do sono, disse o professor Fiorillo.

 

Implicações para a prática clínica

O tratamento oportuno do TDM na DCV pode melhorar os resultados

O tratamento adequado e a prevenção do TDM na DCV podem melhorar tanto a qualidade de vida quanto a longevidade,8 e iniciativas foram criadas para incentivar uma colaboração mais estreita entre psiquiatras e cardiologistas,9,10 disse o professor Fiorillo.

  • Os Centros de Colaboradores da Associação Mundial de Psiquiatria (WPA - do inglês World Psychiatric Association) desenvolveram um Plano de Trabalho de 2021–2024 com foco em multimorbidades em pacientes com transtornos mentais graves, em colaboração com o Grupo de Trabalho WPA sobre Comorbidades Físicas liderado pelo professor Norman Sartorius,ex-diretor da Divisão de Saúde Mental da Organização Mundial da Saúde.
     
  • A Associação Europeia de Psiquiatria (EPA), apoiada pela Associação Europeia para o Estudo da Diabetes (EASD) e pela Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) publicou uma declaração de posição sobre a DCV e diabetes em pessoas com doença mental grave para promover a triagem e o tratamento de pacientes com doença mental grave para fatores de risco de DCV e diabetes e cuidados compartilhados entre diferentes profissionais de saúde.10

Individualizar os tratamentos para evitar efeitos adversos que possam agravar o TDM ou a DCV

Sugere-se uma abordagem multidisciplinar para o manejo do TDM comórbido em pacientes com DCV, e os coordenadores de cuidados podem facilitar o manejo usando a abordagem de cuidados colaborativos.11 Recomenda-se triagem de rotina para o TDM usando o questionário de saúde do paciente de 2 itens (PHQ-2) seguido de triagem focada com o PHQ-9.11

Finalmente, os tratamentos devem ser individualizados e selecionados para evitar efeitos adversos que possam agravar o TDM ou a doença cardiovascular,12 concluiu o Professor Fiorillo.

 

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Referências

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  3. Wium-Andersen M, Wium-Andersen I, Prescott E, et al. An attempt to explain the bidirectional association between ischaemic heart disease, stroke and depression: A cohort and meta-analytic approach. Br J Psych. 2019;217(2):434–41.
  4. Bucciarelli V, Caterino AL, Bianco F, et al. Depression and cardiovascular disease: The deep blue sea of women's heart. Trends Cardiovasc Med. 2020;30(3):170–76.
  5. Carney, R., Freedland, K. Depression and coronary heart disease. Nat Rev Cardiol. 2017;14:145–55.
  6. Khandaker GM, Zuber V, Rees JMB, et al. Shared mechanisms between coronary heart disease and depression: findings from a large UK general population-based cohort. Mol Psychiatry. 2020;25:1477–86.
  7. Wittenborn AK, Rahmandad H, Rick J, Hosseinichimeh N. Depression as a systemic syndrome: mapping the feedback loops of major depressive disorder. Psychol Med. 2016;46(3):551–62.
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  9. Fiorillo A, Bhui KS, Stein DJ, et al. The 2021-2024 Work Plan of WPA Collaborating Centres. World Psychiatry. 2021 Oct;20(3):457.
  10. De Hert M, Dekker JM, Wood D, et al. Cardiovascular disease and diabetes in people with severe mental illness position statement from the European Psychiatric Association (EPA), supported by the European Association for the Study of Diabetes (EASD) and the European Society of Cardiology (ESC). Eur Psychiatry. 2009;24(6):412–24.
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