Otimização do manejo clínico no transtorno de pânico

O transtorno do pânico (TP) é caracterizado por ataques de pânico recorrentes e predominantemente imprevisíveis que podem ocorrer com ou sem agorafobia. Aqui discutimos os sintomas do TP, fatores comórbidos e achados neurológicos e genéticos, juntamente com formas otimizadas de rastrear e tratar o transtorno.

Sintomas de Transtorno do Pânico

Estima-se que cerca de 300 milhões de pessoas em todo o mundo tenham um transtorno de ansiedade, incluindo: transtorno do pânico (TP), transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de ansiedade social e fobias específicas.1 Embora a prevalência de TP ao longo da vida seja de 1 a 3%, a condição afeta cerca de 2,5 vezes mais mulheres do que homens.2 Mais recentemente, uma avaliação durante a pandemia da COVID-19 revelou que a nova incidência de TP foi de 3%, com fatores de risco preditivos, incluindo: estresse experimentado durante o surto; um transtorno mental pré-existente; localização geográfica; medo de infecção; e a percepção de restritividade das medidas de contenção na pandemia.3

Os episódios de pânico podem envolver sintomas de medo, palpitações cardíacas, sensação de asfixia e despersonalização

O TP é caracterizado por ataques de pânico recorrentes e predominantemente imprevisíveis, que podem ocorrer com ou sem agorafobia. Os episódios/ataques de pânico podem envolver não só sintomas de medo sem perigo aparente, tais como medo de morrer ou perda de controle, mas também sintomas físicos, tais como palpitações cardíacas, dores no peito ou dispneia; sentimentos de asfixia, tonturas e desmaios, e de despersonalização ou desrealização. Uma pessoa pode ser diagnosticada com TP após apenas dois ataques de pânico quando acompanhado por pelo menos quatro desses sintomas. No entanto, os sintomas não podem ser atribuídos a qualquer outro gatilho, como uma resposta a uma situação social, que seria classificada como transtorno de ansiedade social.4

 

Comorbidade

Como mencionado, o TP está associado a uma série de sintomas físicos, portanto, altas taxas de comorbidade do TP e distúrbios somáticos podem, potencialmente, causar dificuldades em distinguir um ataque de pânico de sintomas de outra causa.5 Por exemplo, até 25% das pessoas com doença pulmonar obstrutiva crônica 6 e 20% de pessoas com asma, têm TP comórbido.7 Sintomas de doença cardíaca foram relatados como associados ao TP - por exemplo, em um estudo, 43% dos pacientes de pronto-socorro que relataram dor torácica atípica tiveram TP ou ataque de pânico.8 Os distúrbios da tireoide também foram associados à ocorrência de TP9 e a ocorrência de sintomas de disfunção vestibular, como tontura e vertigem, foi associada a estados de alta ansiedade.5

O TP pode ser comórbido com distúrbios somáticos, como asma e condições psiquiátricas, como transtorno depressivo maior

Há alta comorbidade do TP e de outros transtornos psiquiátricos. Por exemplo, cerca de 10% das pessoas com transtorno depressivo maior (TDM) e 20% das pessoas com transtorno bipolar também têm TP e as pessoas com TP têm um risco 47% maior de depressão (94% quando o TP e a fobia social são comórbidos) e 7% maior risco de suicídio.5 Há também um risco aumentado de TP em pessoas com um transtorno por uso de álcool ou drogas, incluindo dependência de nicotina, qualquer outro transtorno de ansiedade e transtornos de personalidade.10

 

Achados neurológicos e genéticos no TP

Estudos de ressonância magnética funcional sugerem que o TP está associado a atividades anormais no sistema córtico-límbico,11 composto pelo hipocampo e amígdala (envolvidos com aprendizagem, memória e estresse emocional) projetando-se e recebendo sinais do córtex cingulado anterior (CCA) e córtex pré-frontal dorsolateral (CPF) (envolvidos em funções executivas, como atenção seletiva, motivação e interações sociais).12

Uma revisão de estudos que examinaram o processamento de expressões faciais emocionais em pessoas com TP encontrou déficits em muitas regiões do sistema córtico-límbico em comparação com controles saudáveis, incluindo padrões de hiperativação e hipoativação. Isso, sugeriram os autores, reflete-se no conhecimento do envolvimento do CCA na ansiedade antecipatória e na hipervigilância interoceptiva; no envolvimento do CPF em circuitos de saliência para orientar a atenção entre estímulos externos e internos; e no envolvimento da amígdala em aspectos de vigilância atencional do processamento de estímulos emocionais, e reconhecimento de estímulos temerosos e ameaçadores, e de expressões faciais emocionais e assustadoras.11

No TP, foram encontrados déficits nas regiões do sistema córtico-límbico

O TP é um distúrbio poligênico que tem alta sobreposição com TDM, transtornos de ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático e neuroticismo.13 Estudos que examinam o fator epigenético da metilação do DNA encontraram diferenças de metilação nas regiões de vários genes em pessoas com TP, incluindo aqueles envolvidos no transporte e processamento de neurotransmissores. Além disso, um estudo recente encontrou hipometilação de um gene associado ao citoesqueleto, expresso na amígdala, hipocampo, hipotálamo, cerebelo e regiões corticais, que os autores propuseram poder haver um papel na função neuronal. Este estudo também encontrou aumentos de metilação em um gene que codifica um receptor de interleucina-1 alfa (IL-1 a) e beta (IL-1b) após 6 semanas de terapia cognitivo-comportamental (TCC), sugerindo um papel na ansiedade dessas citocinas que pode ser modulado pelo tratamento.14

 

Triagem para TP

Diagnosticamente, uma breve triagem para TP pode ser realizada, primeiro perguntando a uma pessoa se ela tem episódios repentinos, inesperados, de medo intenso ou desconforto. Se sim, o questionamento adicional pode incluir quantas vezes ela teve esses episódios, se a pior parte do episódio atinge o pico após vários minutos e se o episódio resultou em medo/preocupação duradouro de ter outro episódio, ou suas consequências.15

Uma triagem rápida para TP pode ajudar a avaliar se uma pessoa pode precisar de uma investigação mais completa

Uma avaliação mais abrangente pode utilizar a Escala de Pânico e Agorafobia, uma escala de autorrelato com 13 itens que pode ajudar a avaliar a gravidade e a resposta do TP usando escalas de classificação de 5 pontos.16,17 Outra medida, a Escala de Gravidade do Transtorno do Pânico (PDSS, do inglês Panic Disorder Severity Scale), pode ser feita por um clínico ou autorrelatada.16,18 A PDSS tem sete itens que avaliam vários aspectos do TP, incluindo sofrimento durante os episódios; frequência dos episódios; ansiedade antecipatória; comprometimento/interferência no funcionamento social ou no trabalho; e medo e evitação agorafóbicos e interoceptivos. Estes são classificados em uma escala de 0 (nenhum) a 4 (grave), com uma pontuação total de 6-9 sendo pouco acometido e ≥14 sendo marcadamente acomedito.18,19

 

Tratamento para TP

Apenas cerca de um terço dos pacientes com TP procuram tratamento dentro do primeiro ano após o início dos casos, com muitos indo primeiro a médicos especialistas de outras áreas ou emergências, devido aos sintomas somáticos.16 O tratamento do TP gira em torno de terapias psicológicas e farmacológicas15,16 com considerações necessárias para as preferências do paciente, gravidade dos sintomas e disponibilidade de tratamento, custo, tolerância e segurança.16

Inibidores seletivos de recaptação de serotonina e inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina são recomendados como farmacoterapia de primeira linha.15,16,20-22 Em uma metanálise, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) e a terapia psicodinâmica de curto prazo foram encontradas como as melhores intervenções para o TP em comparação ao tratamento padrão.23 Outra metanálise identificou que a TCC realizada remotamente pode apresentar expressivo tamanho de efeito nos sintomas do TP e são comparáveis à TCC presencial.24

Tanto a farmacoterapia quanto a psicoterapia são tratamentos recomendados por diretrizes para o TP

Estudos indicam que a combinação de farmacoterapia e TCC pode ter benefícios para algumas pessoas com TP; no entanto, as diretrizes sugerem que as etapas do tratamento devem ser sequenciais para permitir a avaliação da eficácia do tratamento inicial primeiro.15,16,20-22

 

 

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Our correspondent’s highlights from the symposium are meant as a fair representation of the scientific content presented. The views and opinions expressed on this page do not necessarily reflect those of Lundbeck.

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Referências

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3. Georgieva I, et al. Healthcare (Basel) 2021; 9: 664.

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5. Simon NM, Fischmann D. J Clin Psychiatry 2005; 66 Suppl 4: 8−15.

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7. Perna G, et al. Biol Psychiatry 1997; 42: 625−630.

8. Wulsin LR, et al. Int J Psychiatry Med 1988; 18: 315−323.

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16. Andrews G, et al. Aust N Z J Psychiatry 2018; 52: 1109−1172.

17. Bandelow B. Int Clin Psychopharmacol 1995; 10: 73−81.

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