Déficits de fala, movimentos das mãos e motivacionais – Biomarcadores não invasivos na esquizofrenia?

Alterações nos movimentos das mãos, no padrão de fala e nas respostas motivacionais em pacientes com esquizofrenia são apenas alguns dos biomarcadores não invasivos atualmente sendo investigados na busca pela psiquiatria de precisão. Como apresentado no SIRS2021 (Encontro Anual da Sociedade Internacional de Pesquisa da Esquizofrenia), tais biomarcadores podem facilitar a identificação e intervenção precoce na psicose.

Os sinais neurológicos sutis (SNS) são anormalidades neurológicas suaves e não localizáveis no desempenho motor e sensorial.1,2 O professor Raymond Chan, do Instituto de Psicologia da Academia Chinesa de Ciências, argumentou que SNS, como o toque sequencial de polegar para dedo (thumb-to-finger tapping), usado para investigar a coordenação motora juntamente com outros exercícios focados na mão, são endofenótipos promissores para a esquizofrenia.

 

SNS – não tão sutis na esquizofrenia

Isso ocorre porque os SNS não são ‘sutis’ nas redes estruturais e funcionais do cérebro.3 Ele sugere que os SNS são mais ou menos equivalentes ao construto convencional do funcionamento cognitivo.4 Juntamente com o curto período de tempo necessário para avaliar o SNS e o desenvolvimento de luvas sensoriais, que podem avaliar a velocidade e a força da coordenação das mãos, ele acredita que essas deficiências sutis do movimento das mãos oferecem um método viável e eficiente para a triagem de transtornos mentais.

Deficiências sutis no movimento das mãos oferecem um método viável e eficiente para triagem de transtornos mentais

Os dados que apoiam sua afirmação incluem um estudo que demonstra a sensibilidade e especificidade dos SNS para o espectro da esquizofrenia, mas nenhum outro transtorno neuropsiquiátrico, em que aqueles com risco muito elevado de psicose podem ser diferenciados de controles saudáveis com 85,9% de precisão. E, também, a impressionante hereditariedade dos SNS nos níveis comportamental e neural.5-7

Em conjunto, diz o professor Chan, esses dados sugerem que os SNS oferecem endofenótipos promissores para a detecção precoce de transtornos do espectro da esquizofrenia e são biomarcadores candidatos adequados na medicina de precisão.

 

Pausas mais longas nos padrões de fala de esquizofrênicos

O Professor Vijay Mittal (EUA), descreveu vários novos tipos de biomarcadores potencialmente adequados para a avaliação prodrômica de pacientes com alto risco de psicose, incluindo análise de fala e expressividade facial embotada.

Ao falar, as anomalias na 'tomada de turnos' durante uma conversa estão ligadas aos déficits sociais na esquizofrenia. Aqueles em alto risco para a doença fazem pausas mais longas antes de responder a uma pergunta - em média 102 milissegundos – do que os controles saudáveis.8 Mesmo depois que a complexidade da resposta e o tipo de pergunta são levados em consideração, o déficit permanece e parece aumentar com a gravidade positiva dos sintomas. Assim, esse déficit é um candidato ideal para investigação posterior como um biomarcador de alto risco, não invasivo e adequado para automação.

 

Aqueles com alto risco de psicose pausam, em média, por 102ms a mais ao responder a perguntas

Expressão de alegria e raiva embotadas na esquizofrenia

O Sistema de Codificação de Ação Facial (do inglês, Facial Action Coding System), é o padrão ouro atual usado para avaliar expressões faciais embotadas em pacientes com alto risco de psicose. É um sistema complicado e demorado de administrar, porém um pequeno estudo, comparando 42 pacientes com alto risco para psicose a 42 controles saudáveis, testou a validade de automatizar esse processo de avaliação.9 A codificação automatizada desenvolveu parâmetros para 7 emoções básicas. Destas, ‘alegria’ e ‘raiva’ foram estatistica e significativamente diferentes no grupo de alto risco, em comparação com os controles (p<<0,05) e podem ser valiosos biomarcadores pródromos futuros.

 

‘Alegria’ e ‘raiva’ foram estatística e significativamente diferentes no grupo de alto risco de psicose em comparação com os controles e podem ser biomarcadores pródromos futuros valiosos de indivíduos de alto risco

Questões motivacionais na esquizofrenia devido à avaliação deficiente

Déficits de motivação e recompensa também podem ser potenciais biomarcadores não invasivos de psicose.

O Professor James Waltz, Centro de Pesquisa Psiquiátrica de Maryland (EUA), mostrou dados que sugerem que aqueles em alto risco parecem incapazes de avaliar os valores das escolhas que estão fazendo ao resolver problemas, embora disfarçados de jogos.10 Tais déficits podem ser reconhecidos e avaliados naqueles em alto risco por meio de uma série de conjuntos de cartões de recompensa, de probabilidade "fixa", e podem formar a base de um regime de teste mais adequado para uso geral.

 

Déficits de motivação e recompensa também podem ser potenciais biomarcadores não invasivos de psicose

Agrupamentos motivacionais

A professora Kathryn Eve Lewandowski, da Harvard Medical School (EUA), adotou uma abordagem diferente para identificar déficits motivacionais. Seu grupo aproveitou a heterogeneidade nos construtos multidimensionais que descrevem a motivação e a recompensa na psicose para realizar uma análise de agrupamento com base na metodologia usada anteriormente em um estudo sobre cognição.11

Quatro grupos distintos foram identificados quando foram avaliados pacientes com uma variedade de condições associadas à psicose. No entanto, embora possa ser possível adaptar as intervenções com base nos perfis motivacionais descobertos, sugeriu-se que são necessárias análises adicionais.

 

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Referências

  1. Heinrichs DW & Buchanan RW. Am J Psych 1988;145:11-8
  2. Bombin I, et al. Schizophr Bull 2005;31:962-27
  3. Zhao Q, et al. Schizophr Bull 2014;40;626-641
  4. Chan R, et al. Neuroimag Clin 2015;9:411-7
  5. Chan RCK, et al. Schizophr Bull 2016;42:560-70
  6. Chan R et al. Euro Arch Clin Psychiatry 2018;268:49-56
  7. Xu T, et al. Psychiatr Med 2016;46:117-123
  8. Sichlinger L, et al. Schizophr Res 2019;204:419-20
  9. Gupta T, et al. J Abnormal Psychol 2019;128:341-351
  10. Hernaus D, et al. Biol Psychiatry Cogn Neurosci Neuroimaging 2019;4:280-290
  11. Lewandowski K, et al. JINS 2018;24:382-390