Desfechos negativos em Saúde Cardíaca nos Pacientes com Transtorno Mental

Pacientes que vivem com transtornos mentais graves têm altas taxas de morbidade cardiovascular e mortalidade prematura associada. O SIRS 2023 reuniu um painel de psiquiatras, cardiologistas e pesquisadores em início de carreira para discutir a relação entre um diagnóstico de transtornos mentais graves e condições cardíacas específicas selecionadas, e como um transtorno psicótico pode influenciar o manejo e desfechos dessas condições.

Taquicardia induzida por drogas

O Dr. Dan Siskind (Princess Alexandra Hospital Metro South Addiction and Mental Health Service, Austrália) compartilhou que quase 25% dos pacientes com primeiro episódio psicótico ou esquizofrenia desenvolvem esquizofrenia resistente ao tratamento após iniciarem o tratamento1,2.

Quase 25% dos pacientes com primeiro episódio psicótico ou esquizofrenia desenvolvem esquizofrenia resistente ao tratamento, após iniciarem o tratamento

Um dos antipsicóticos mais utilizados também está associado ao desenvolvimento de taquicardia sinusal; as estimativas de prevalência variam de 3% a 67%4. Se assintomática, a taquicardia é geralmente deixada sem tratamento1,4. Recomenda-se um monitoramento mais cuidadoso da troponina I, PCR e ECG se a frequência cardíaca do paciente exceder 120 batimentos por minuto. Em termos de intervenção farmacológica, um betabloqueador cardio-seletivo pode ser apropriado, exceto em pacientes com histórico de hipotensão postural1.

 

Síndrome coronariana aguda

O desenvolvimento de taquicardia sinusal durante o tratamento de esquizofrenia resistente ao tratamento é comum, variando de 3% a 67%

A principal causa de morte em pacientes com transtorno mental grave é a doença cardiovascular (DCV)5; o Dr. Kevin O'Gallager (King's College London, Reino Unido) forneceu uma visão geral dos dados que demonstram uma lacuna de tratamento da DCV nestes em pacientes em comparação com a população em geral.

Primeiro, o Dr. O'Gallagher apontou que muitos pacientes com transtorno mental grave apresentam muitos fatores de risco para DCV; por exemplo, tabagismo, hipertensão, uso de antipsicóticos, distúrbios metabólicos, privação social e baixos níveis de atividade5. O Dr. O'Gallagher explicou ainda como os fatores do paciente, fatores biológicos e fatores do sistema convergem para aumentar o risco de DCV nestes pacientes. Os fatores do paciente englobam apresentação clínica tardia, faltas às consultas e fatores socioeconômicos, como isolamento social e falta de recursos. Os fatores biológicos incluem um limiar de dor anormal/aumento da tolerância à dor, um risco aumentado de DCV silenciosa e alterações eletrocardiográficas evidentes mesmo no ECG de repouso. Os fatores do sistema que podem atrasar o diagnóstico apropriado incluem a atribuição incorreta do médico de sintomas físicos ao transtorno mental, baixo desempenho dos modelos de predição de risco de DCV nos transtornos mentais graves e a relativa subavaliação e DCV.

Muitos pacientes com doenças mentais apresentam a maioria dos fatores de risco conhecidos para doenças cardiovasculares

O Dr. O’Gallagher apresentou dados observacionais emergentes do trabalho em andamento nos centros de psiquiatria e cardiologiaem Londres, Reino Unido. Dos 12.102 pacientes com infarto do miocárdio (IAM) com supradesnivelamento do segmento ST , 457 (3,78%) também apresentavam transtorno mental grave. Nesses pacientes, o tempo “sintoma-balão” foimais longo e, um ano após a alta, eles eram menos propensos a receber um betabloqueador, inibidor da enzima conversora de angiotensina (IECA), estatina ou nitrato, porémmais propensos a receber um diurético de alça5. Esses pacientes apresentaram taxas mais altas de eventos cardiovasculares adversos maiores e mortalidade por todas as causas em comparação a pacientes com IAM esupra de ST e sem transtorno mental grave.

Os esforços contínuos para melhorar os cuidados envolvem o uso de uma plataforma de processamento de linguagem chamada "cogstack", , para ler anotações clínicas e escolher diagnósticos a partir delas. Ela também será capaz de acessar dados sobre diagnósticos, procedimentos, medicamentos e fatores pós-hospitalares para ter uma melhor ideia da jornada do paciente de pacientes com IAM e supra de ST e transtorno mental grave. A esperança é que este sistema seja uma estratégia para ajudar a mitigar a lacuna de tratamento nesta população.

 

Fibrilação atrial

Pacientes com doença mental e fibrilação atrial eram menos propensos a receber terapia anticoagulante oral

A Dra. Fiona Gaughran (King's College, Reino Unido) apresentou o trabalho de sua aluna de doutorado Dina Farran sobre fibrilação atrial (FA) em pacientes com transtorno mental grave6. Sua revisão sistemática encontrou menores taxas de FA entre estes pacientes em comparação com pessoas sem transtorno mental grave7. Eles também observaram que pacientes com FA e transtorno mental grave eram menos propensos a receber terapia de anticoagulação oral 7, o que também foi evidenciado em dois estudos retrospectivos, um realizado em um ambiente hospitalar geral e outro em um ambiente de cuidados de saúde mental6.

Essa lacuna inspirou o desenvolvimento do Sistema de Suporte de Decisão Clínica (Clinical Decision Support System-eCDSS) para orientar os médicos para o manejo apropriado da FA (avaliação do risco de sangramento e acidente vascular cerebral, prescrição de anticoagulação oral) em serviços de saúde mental. O estudo da Sra. Farran está em andamento para avaliar a viabilidade, aceitabilidade e utilidade do eCDSS em enfermarias hospitalares que tratam adultos com questões e  reportará os resultados após a sua conclusão6.

 

Insuficiência cardíaca

O risco ao coração entre pessoas com doença mental é o dobro das pessoas sem doença mental.

O Dr. Christoffer Polcwiartek (Aalborg University Hospital, Dinamarca) explicou que os fatores de risco para insuficiência cardíaca (IC) são os mesmos descritos acima para síndrome coronariana aguda. O risco de IC dobra entre pacientes com transtorno mental grave em compração com pessoas sem este diagnóstico8. A depressão afeta 20-50% dos pacientes com IC.

Homens com doença mental e insuficiência cardíaca tiveram taxas mais altas de mortalidade do que mulheres com doença mental e insuficiência cardíaca.

O Dr. Polcwiartek compartilhou dados de um estudo de coorte retrospectivo que analisou os resultados de IC no Duke University Health System entre 2002 e 2017, que encontrou taxas mais altas de mortalidade por todas as causasem pacientes do sexo masculino com IC e transtorno mental grave. Estes pacientes receberam menos prescrições de IECA, bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRA) e beta-bloqueadores, embora os IECA devam ser terapias de primeira linha. De interesse adicional, embora as taxas de acesso a procedimentos avançados para IC (desfibrilador cardioversor implantável, terapia de ressincronização cardíaca, dispositivo de assistência ventricular esquerda e transplante cardíaco) fossem semelhantes para aqueles com e sem transtorno mental grave, os pacientes com doença mental, no entanto, tinham taxas mais altas de mortalidade por todas as causas 8.

O Dr. Polcwiartek recomendou um modelo multidisciplinar de cuidados para estratégias de prevenção precoce e o uso de melhores ferramentas de triagem para identificar pacientes em risco como métodos para abordar as disparidades relacionadas à saúde mental no manejo da IC.

 

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Our correspondent’s highlights from the symposium are meant as a fair representation of the scientific content presented. The views and opinions expressed on this page do not necessarily reflect those of Lundbeck.

Referências

  1. Siskind D, Orr S, Sinha S et al. Rates of treatment-resistant schizophrenia from first-episode cohorts: systematic review and meta-analysis. BJPsych. 2022;220:115-120.
  2. Presented by Dr. Dan Siskind at SIRS 2023, Toronto, Canada, May 14, 2023. Session Title: “The Heart of the Matter: Cardiac Health in People with Psychosis.”
  3. Vermweulen JM, van Rooijen G, van de Kerkhof MPJ et al. Clozapine and Long-Term Mortality Risk in Patients with Schizophrenia: A Systematic Review and Meta-analysis of Studies Lasting 1.1-12.5 years. Schizophr Bull. 2019;45(2):315-329.
  4. Adeyemo S, Jegede O, Rabel P et al. Persistent Tachycardia in a Patient on Clozapine. Case Rep. Psychiatry. 2020; 6352175.
  5. Presented by Dr. Kevin O’Gallagher at SIRS 2023, Toronto, Canada, May 14, 2023. Session Title: “The Heart of the Matter: Cardiac Health in People with Psychosis.”
  6. Presented by Dr. Fiona Gaughran at SIRS 2023, Toronto, Canada, May 14, 2023. Session Title: “The Heart of the Matter: Cardiac Health in People with Psychosis.”
  7. Farran D, Feely O, Ashworth M et al. Anticoagulation therapy and outcomes in patients with atrial fibrillation and serious mental illness: A systematic review and meta-analysis. J Psychiatr. Res. 2022;156:737-753.
  8. Presented by Dr. Christoffer Polcwiartek at SIRS 2023, Toronto, Canada, May 14, 2023. Session Title: “The Heart of the Matter: Cardiac Health in People with Psychosis.”