Durante grandes surtos de doenças infecciosas, como a do novo coronavírus (COVID-19), o distanciamento social ou a quarentena podem ser medidas preventivas necessárias. Entretanto, frequentemente estão associados com efeitos psicológicos negativos. A disseminação de dicas práticas para ajudar a reagir na pandemia e sobre como lidar emocionalmente com os medos e a incerteza sobre o vírus, podem ajudar a manter a saúde mental.
A quarentena é a separação e restrição do movimento de pessoas que podem, potencialmente, ser expostas a doenças contagiosas, para verificar se ficarão doentes e reduzir o risco de infectarem outros indivíduos.1 A quarentena no mundo foi utilizada pela primeira vez na Itália no ano 1127, com relação à Lepra e mais recentemente, em 2003, na China e Canadá durante a SARS (síndrome respiratória aguda grave) e no Oeste da África, em 2014, contra o Ebola. A COVID-19 é originária de uma província da China, mas já está impactando 184 diferentes países/regiões e foi declarado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma pandemia,2 o que levou a diferentes medidas de distanciamento social, que incluem a quarentena.
Estressores podem levar a transtornos de ansiedade generalizada, TEPT, depressão, transtorno obsessivo compulsivo, transtorno do pânico, fobias sociais, entre outros
O impacto do distanciamento social na saúde mental pode desencadear sintomas ansiosos, sentimento de raiva e medo.3 Não saber administrar tal estresse pode levar a transtornos, como transtornos de ansiedade generalizada, estresse pós-traumático (TEPT), depressão, transtorno obsessivo compulsivo, transtorno do pânico, fobias sociais, entre outros. Isso ocorre principalmente em função dos estressores associados à situação, como o medo de infectar-se ou de infectar outras pessoas, sensações de tédio e frustração pela reclusão, diminuição da oferta de suprimentos adequados (água, comida, roupas e acomodação), obtenção de informações diversas sobre o tema, muitas vezes divergentes, bem como contato frequente com informações falsas (Fake News), que podem gerar mais insegurança e frustração.
Um estudo que avaliou a saúde mental em indivíduos durante o período de distanciamento da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS) mostrou que fornecer apoio sobre saúde mental para indivíduos vulneráveis nesse aspecto, além de informações acuradas, suprimentos apropriados, incluindo alimentos, roupas e acomodação, pode prevenir problemas de saúde mental.3
A OMS, ciente que em tempos de crise há um aumento do estresse na população em geral, elaborou, com o auxílio da equipe de seu Departamento de Saúde Mental, algumas considerações sobre saúde mental para apoiar a população durante a pandemia da COVID-19:4
- Evitar assistir, ler ou escutar notícias que causem sensação de ansiedade ou angústia; procurar informações principalmente para tomar medidas práticas para fazer planos e proteger a si mesmo e a entes queridos.
- Procurar informações atualizadas em horários específicos do dia e em fontes confiáveis, como o próprio site da OMS, da Organização Pan Americana de Saúde ou do Ministério da Saúde de seu país, para evitar as chamadas Fake News (notícias falsas).
- Manter-se conectado com suas redes de amigos, por e-mails, vídeo conferência e telefone.
- Fazer atividades físicas regularmente, mesmo que em casa, manter a rotina de sono regular e alimentar-se de forma saudável.
- Higienizar as mãos com água e sabão ou álcool gel a 70%, usar máscaras, caso necessário, e manter a casa limpa.
- Para as crianças: encontrar maneiras positivas de expressar sentimentos perturbadores, como tristeza e medo. Uma forma é engajando-as a realizar atividades criativas, tais como desenhar ou jogar.
- Para os idosos: informe-os de forma clara, concisa, respeitosa e paciente o que está acontecendo e como eles devem se cuidar, usando palavras que os idosos com ou sem comprometimento cognitivo possam entender. Repetir as informações quantas vezes forem necessárias.
A atual pandemia relacionada a COVID-19 tem resultado no aparecimento de diversos sintomas associados ao estresse, à redução autonômica e às preocupações sobre seus recursos, trabalho, segurança, distanciamento social, entre outros. Além disto, o distanciamento pode piorar os sintomas depressivos e de ansiedade em pacientes que já sofrem de doenças associadas aos mesmos,5 ao que se deve estar atento.
O tratamento e apoio através da Telemedicina podem ajudar o paciente a manter o bem-estar psicológico
A Telemedicina, mais especificamente voltada para a saúde mental, é uma prática viável e que está excepcionalmente aprovada como uma estratégia de apoio aos pacientes e a seus familiares durante a pandemia.6 A Telemedicina compreende a prática da realização de atendimentos remotos aos pacientes através do uso de tecnologia. No caso de saúde mental e psiquiatria, fornecer este tipo de tratamento e apoio pode ajudar o paciente a manter o bem-estar psicológico e a lidar com problemas atuais e futuros de forma mais favorável.7
Esse serviço de saúde mental ocorre através de videoconferências, e-mails, telefone ou aplicativos de celular, devendo o paciente sempre consultar o seu médico caso necessite de ajuda.
Certamente muitos medos e incertezas permanecerão por ser uma situação excepcional e inédita, portanto associada a muitas dúvidas, mas é importante estarmos cientes e atentos aos possíveis impactos do distanciamento na saúde mental, para que possamos implementar as medidas mais adequadas e ajudar a minimizá-los.
