Enxaqueca crônica como um desafio para a saúde mental

As comorbidades de saúde mental são comuns na enxaqueca crônica, sendo a ansiedade e depressão relatadas por um terço ou mais dos pacientes afetados.1 Neste artigo, dois pacientes descrevem como a enxaqueca crônica prejudica gravemente a qualidade de vida e a capacidade funcional, e o papel vital do apoio vindo de bons relacionamentos.

De acordo com a OMS, 1,7-4% da população adulta mundial sofre de dor de cabeça em quinze ou mais dias por mês.2 No estudo Global Burden of Disease (Carga Global de Doenças) da Lancet, em 2016 a enxaqueca foi responsável por mais de 45 milhões de anos vividos com incapacidade.3

No entanto, cada estatística global é composta de milhões de histórias individuais.

O Dia Mundial da Saúde Mental de 2022 trouxe a oportunidade para dois pacientes prestarem contarem suas histórias.

“Meu nome é Ditte. Tenho 32 anos e tenho enxaqueca epiléptica crônica com aura desde os 9 anos. Muitas vezes me deparei com pessoas falando: "É apenas um pouco de dor de cabeça – recomponha-se". Mas a enxaqueca é uma doença, e é uma doença intensa para se conviver. As fortes crises - em que preciso tomar remédios e ir para a cama – são as que tenho de 10 a 15 dias por mês.

 

Perdi muitos amigos. Perdi muitos namorados. Porque quando ao se relacionar comigo, a enxaqueca determina se eu estarei presente ou não. Tive pensamentos suicidas, porque pensava: ‘Isso é muito difícil de conviver. Eu não quero isso.’"

Ditte menciona que ela contemplou o suicídio. Como uma pessoa que sofre de enxaqueca crônica grave, ela não tem um comportamento incomum nesse ponto. Em um estudo prospectivo recente com acompanhamento de dois anos, pessoas com enxaqueca tiveram um risco mais de 4,4 vezes maior de uma tentativa de suicídio em comparação a grupos controle sem histórico de dor de cabeça grave.4 O aumento do risco pareceu relacionado à gravidade da dor.

Ditte enfatiza como a compreensão e apoio da família e dos entes queridos são importantes para tornar a vida com enxaqueca mais suportável.

 

Isabella, de 24 anos, que tem enxaqueca há 16 anos, ecoa os pensamentos de Ditte sobre o papel vital desempenhado pelas relações de apoio. Ela também descreve como a condição perturba a funcionalidade social e fica no caminho do sucesso educacional e perspectivas de emprego.

“A enxaqueca é estigmatizada na sociedade. Acho que as pessoas têm dificuldade em se identificar com a enxaqueca, já que é uma doença invisível. Às vezes, é um pouco doloroso que as pessoas não saibam o que é estar tão incapacitado pela doença.”

 

“Quando meu namorado e eu começamos a morar juntos, foi, infelizmente, um dos meus piores períodos em relação à enxaqueca. Tem sido difícil. Tem sido um verdadeiro desafio para nós. Ele tem sido realmente compreensivo durante este processo. Sou muito grata por isso, porque muitas pessoas não seriam tão compreensivas.”

 

“Eu costumava conhecer muitas pessoas. Eu amo planejar, estar no controle, ter uma agenda cheia. Mas aprendi que não posso fazer tudo isso. É mais difícil se manter ativa, ser aprovada nas provas, e mais difícil passar pela minha formação educacional. Você precisa ter motivação para realizar algo tendo enxaqueca. É uma doença que vira sua vida de cabeça para baixo.”

 

O futuro parece brilhante para a Isabella. Eu não sei se parece brilhante para a Isabella com enxaqueca. Eu só espero que eu consiga lidar com ter um emprego, e algum dia eu espero que eu possa começar uma família.”

Os relatos sinceros de Ditte e Isabella mostram como é importante, no nível pessoal, que a enxaqueca seja tratada da maneira mais eficaz possível. Atualmente, muitas vezes não é esse o caso. As pessoas que sofrem de enxaqueca crônica exigem (mas muitas vezes não recebem) terapia preventiva, bem como o tratamento de episódios de dor de cabeça aguda.5,6 Também há a preocupação de que a enxaqueca seja substancialmente subdiagnosticada.6 A OMS estimou que em todo o mundo apenas 40% daqueles com enxaqueca ou dor de cabeça do tipo tensional recebem um diagnóstico profissional.2

Uma recente revisão sistemática de estudos que investigaram a comorbidade psiquiátrica na enxaqueca descobriu que a depressão era quase duas vezes mais frequente entre os portadores de enxaqueca do que na população em geral. Pacientes com enxaqueca têm 1-9 vezes mais probabilidade de ter um diagnóstico de transtorno do pânico do que pessoas sem enxaqueca, e também são mais propensos a sofrer de transtorno de ansiedade generalizada.7

Reconhecer a comorbidade da enxaqueca e da doença psiquiátrica tem profundas implicações clínicas, concluem os autores da revisão.7 Uma abordagem multidisciplinar para o manejo ideal de ambas as condições pode trazer benefícios sinérgicos. 

 

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Referências

  1. Buse DC, Manack A, Serrano D, et al. Sociodemographic and comorbidity profiles of chronic migraine and episodic migraine sufferers. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2010;81(4):428-32
  2. https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/headache-disorders
  3. Global, regional, and national burden of migraine and tension-type headache, 1990–2016: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2016GBD 2016 Headache Collaborators Lancet Neurology November, 2018
  4. Breslau N, Schultz L, Lipton R et al. Migraine headaches and suicide attempt Headache 2012;52(5):723-31.
  5. Agostoni EC, Barbanti P, Calabresi P et al. Current and emerging evidence-based treatment options in chronic migraine: a narrative review. Headache Pain 2019;20(1):92.
  6. Eigenbrodt AK, Ashina H, Khan S et al. Diagnosis and management of migraine in ten steps. Nat Rev Neurol 2021;17(8):501-514.
  7. Dresler T, Caratozzolo S, Guldolf K et al Understanding the nature of psychiatric comorbidity in migraine: a systematic review focused on interactions and treatment implications. J Headache Pain 2019;20(1):51