Expectativas do paciente e metas de tratamento no TDM

A discussão sobre novas perspectivas para o tratamento do Transtorno Depressivo Maior (TDM) é cada vez mais importante. Ao longo dos últimos anos, as metas do tratamento aprimoraram-se. Atualmente, proporcionar qualidade de vida e recuperação funcional são objetivos almejados, e, que permitem valorizar a percepção do paciente.

Este foi o tema abordado no episódio 25 do LundCast, que recebeu o Dr. Amaury Cantilino (Psiquiatra - CRM-PE: 13128| RQE 4309) para conversar mais sobre este tópico tão importante na rotina clínica do psiquiatra. 

Destacamos abaixo alguns trechos deste episódio. E para ouvi-lo na íntegra, clique aqui.

 

Dr. Amaury, qual a importância de se definir objetivos de tratamento com o seu paciente, considerando as expectativas dele? Quais são os impactos dessa abordagem na prática clínica, e, por que o médico deve estar atento a este aspecto no dia a dia?

 

Vivemos a era da medicina personalizada. Em um artigo interessante, cujo título é: “Adapting the Goal Attainment Approach for Major Depressive Disorder”, um pesquisador chamado Maggie McCue, abre o texto dizendo que a prática clínica tem sido cada vez mais focada na incorporação da voz do paciente. De fato, a evolução da medicina personalizada, que é o modelo médico baseado na adequação da estratégia terapêutica e as características de um indíviduo no momento do tratamento, resultou em alterações no encontro clínico. Muitos médicos até estranham isso: pacientes bem-informados, com conhecimento prévio para a consulta, e sobretudo, pacientes querem entender um pouco mais sobre o processo de escolha terapêutica. É interessante porque em medicina terapêutica personalizada, um componente se concentra nas características fisiológicas ou genéticas do paciente; estratificar o paciente por gênero, ou por idade, características genéticas, como a farmacogenética, isso tudo envolve a medicina personalizada e ajuda na seleção do tratamento. Outros aspectos do atendimento personalizado referem-se a abordagem mais completa da situação do paciente, como, por exemplo, os objetivos deles.

Como parte da melhoria contínua nos cuidados de saúde, os médicos estão empenhados, cada vez mais, em envolver ativamente, os pacientes e familiares nessas decisões sobre seus cuidados, para obter os ganhos desejados, concentrando-se na eficácia do tratamento, mas alcançar também o que o paciente considera como um resultado significativo.

E, o que o paciente considera resposta? Quando o paciente considera que está melhor? Qual é o comportamento dele que muda ou quais são os objetivos que ele alcança que faz com que ele pense que melhorou?

 

Como os médicos avaliam a percepção dos pacientes no tratamento evolutivo?

Esse ponto é fundamental. Além de psiquiatra, eu sou terapeuta cognitivo comportamental. Na primeira ou, no máximo, na segunda sessão de psicoterapia cognitiva, abordamos com o paciente quais são os objetivos dele com o tratamento, o que ele espera em termos de modificação da vida de uma maneira mais objetiva, mais concreta, como ele se observa melhor.

Saber quais são os objetivos do paciente é algo primordial para que você saiba onde quer chegar, sobretudo onde o paciente quer chegar com o tratamento.

Isso deve ser discutido em toda primeira consulta, saber de que maneira aquela doença está impactando a vida social do paciente, será que está sem encontrar com os amigos, é uma pessoa que gosta de sair numa sexta-feira à noite e não tem saído, será que é uma pessoa que tem evitado ir para escola ou trabalho, justamente porque se sente desconfortável do ponto de vista social.

Em termos de trabalho, o quanto ele considera que o transtorno influencia no desempenho dele, na produtividade, o quanto o transtorno interfere também nas relações familiares, o quanto está irritado, e, essa irritação tem atrapalhado a relação dele com a esposa, com os filhos, o quanto ele tem deixado de visitar familiares que são importantes por causa do transtorno.

Muitas vezes o paciente vai avaliar se está melhorando ou não, caso essa percepção do impacto seja dissolvida com o tratamento. Isso é algo diferente em relação ao que o médico pode ter como visão de objetivo de tratamento, e, do que pode representar uma melhora.

 

Mesmo sem saber o quanto da perspectiva do paciente é incorporada na medicina, os próprios pacientes já o fazem. A medicina centrada no paciente continua a ser um objetivo fundamental para a sociedade, e inclui esse conceito de alcançar resultados que são explicitamente relevantes para cada indivíduo. E nesse sentido, a abordagem nesse atingimento de metas, fornece uma estrutura para uma conversa colaborativa entre o paciente e o seu médico, que serve para alinhar os objetivos do tratamento por meio de tomada de decisões compartilhadas, priorizando o que mais importa para o paciente. O encontro entre médicos e pacientes é o encontro entre dois especialistas: um especialista em doenças, em psiquiatria... e o outro na própria vida, no que é significativo para ele. Logo é essencial que ambos compartilharem informações não só do quadro clínico geral, mas também do quadro funcional geral, para uma escolha conjunta do tratamento apropriado.