Neuroimagem: foco na predição do curso da doença e da resposta ao tratamento

Predizer o curso de uma doença e a resposta ao tratamento — o que inclui a predição da probabilidade de uma pessoa de alto risco evoluir para psicose — foram áreas de prioridade clínica identificadas na sessão de discussões sobre neuroimagem. Quando se trata do uso de técnicas avançadas de imagem na prática cotidiana, nós ainda estamos longe de onde queremos estar. Mas há indicadores ao longo do caminho.

Se uma pessoa com doença mental grave chega à clínica, provavelmente não precisaremos de uma tomografia cerebral para chegar a um diagnóstico. Todavia — em um mundo ideal — seria muito útil no momento em que falássemos com alguém no seu primeiro episódio de psicose, bem como com os seus familiares, se já soubéssemos se a sua doença teria ou não um curso relativamente benigno.

Isso poderia ser uma informação bastante importante para justificar o custo de um exame— se possuíssemos um biomarcador de imagem confiável.

O esforço deve ser colocado em algoritmos de aprendizagem de máquina que sejam relevantes para a predição da resposta ao tratamento

A geração de imagens pode fornecer evidências precoces de resposta “provável”?

Em um paciente com depressão maior, nós gostaríamos de poder ver após uma semana ou mais se esse mesmo paciente estava apresentando sinais de resposta ao tratamento prescrito.

Catherine Harmer (Universidade de Oxford, Reino Unido) mencionou evidências preliminares de neuroimagem que indicaram que as mudanças nas redes de processamento, no momento em que os pacientes estão envolvidos em tarefas de reconhecimento de emoções, parecem ser preditivas de uma resposta sintomática secundária a um antidepressivo.1

Mesmo que esta descoberta possa ser replicada, ainda precisaríamos saber se uma estratégia de troca de medicamento orientada por imagem produziria um resultado clínico melhor a longo prazo, alertou a professora Harmer. Mas nós podemos imaginar que sim.

Percepções sobre alto risco de psicose clínica

Trabalhos recentes mostram que pessoas com esquizofrenia precoce, assim como aquelas com alto risco clínico de desenvolver a doença, têm uma característica funcional comum na ressonância magnética (MRI) que as diferencia de indivíduos saudáveis. Neste caso, a ativação no cíngulo anterior dorsal bilateral e no córtex frontal inferior direito estão significativamente reduzidas.2

Essa interessante observação está relacionada à nossa compreensão do comprometimento do controle cognitivo na esquizofrenia. Entretanto, não sabemos o quão específico é esse comprometimento; nem se a sua presença nos ajuda a prever quais indivíduos de alto risco estão em perigo iminente de transição para a psicose.

Um recente estudo multimodal de neuroimagem encontrou uma correlação entre os níveis de GABA no córtex pré-frontal medial e o fluxo sanguíneo no hipocampo de pessoas com ultra alto risco de psicose, com diferenças entre aquelas que desenvolveram um transtorno psicótico nos dois anos seguintes e aquelas que não desenvolveram.3 Mas, novamente, embora seja um achado importante, ainda não há implicações imediatas para a prática clínica.

Interessantes descobertas de MRI e de tomografia por emissão de pósitrons (PET) foram documentadas; no entanto, permanece o desafio de como estas serão traduzidas para a prática clínica

Temos interessantes descobertas em MRI e PET, porém o desafio é traduzi-las para a prática clínica, disse Ole Andreassen (Universidade de Oslo, Noruega) durante a sessão.

A geração de neuroimagens pode ajudar na neurociência populacional?

Uma breve revisão da literatura conduzida por Carles Soriano-Mas (Instituto de Pesquisa Biomédica Bellvitge Barcelona, Espanha) revelou que a maior área de interesse tem sido a da neuroimagem em esquizofrenia, particularmente através do uso de MRI para o mapeamento das conexões funcionais quando os pacientes estão envolvidos em uma tarefa relevante, ou morfometria baseada em voxel de volumes cerebrais regionais.

A sessão também considerou o potencial da neuroimagem em “neurociência populacional”, do tipo que poderia ser obtido em grandes estudos de coorte, como o UK Biobank.4 Mas a visão geral era de que a relativa raridade de doença mental grave significava que isto não deveria, no momento, ser um foco de pesquisa.

Estamos um pouco distantes de poder pensar em imagem na triagem da população.

Estamos a alguma distância de poder pensar em neuroimagem na triagem da população. E os psiquiatras não se encontram em uma posição análoga à dos neurologistas, que estão considerando ativamente se as evidências de neuroimagem amilóide ou Tau no cérebro devem ser consideradas uma característica definidora da Doença de Alzheimer, mesmo na ausência de sintomas cognitivos.

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Referências

  1. Godlewska BR et al. Int J Neuropsychopharmacol 2018; Aug 16
  2. Fryer SL et al. Schizophr Bull 2018 Jan 26
  3. Modinos G et al. Neuropsychopharmacology 2018 Jan 30
  4. Miller KL et al. Nature Neuroscience 2016;19:1523-1536