Os antipsicóticos injetáveis de ação prolongada possuem um papel no início da esquizofrenia?

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A intervenção precoce e o tratamento contínuo na esquizofrenia são essenciais para garantir bons resultados. Isso inclui determinar as metas de tratamento do paciente, desenvolver um plano de prevenção de recaídas e reconhecer os problemas de adesão; todavia, existe nesse contexto um papel para os antipsicóticos injetáveis de ação prolongada (IAPs)? O caso foi apresentado neste simpósio satélite do Congresso Virtual do Colégio Europeu de Neuropsicofarmacologia, ECNP 2020.

A necessidade de intervenção precoce

O tratamento do primeiro episódio psicótico tem implicações de longo prazo, conforme propôs Tara Niendam (Universidade da Califórnia, EUA). A duração da psicose não tratada, desde o primeiro episódio até o diagnóstico preciso, prediz fortemente o resultado a longo prazo.1 A psicose “precoce” (primeiros 5 anos após o início dos sintomas) é o período crítico em que o tratamento tem seu maior impacto.2  Concentre-se em manter a funcionalidade, em vez de recuperar a funcionalidade perdida.

A psicose precoce é o período crítico no qual o tratamento tem maior impacto

 

Reduzindo o risco de recaída

Os cursos em potencial da doença são heterogêneos e o tratamento precoce abrangente pode reduzir a incapacitação a longo prazo.3 A funcionalidade precoce é o melhor preditor da funcionalidade futura. Transmita ao paciente a mensagem de que a recuperação é possível e concentre-se nos objetivos mais amplos do tratamento e nas funções que eles desejam exercer, junto ao controle dos sintomas. O desenvolvimento de um “plano de prevenção de recaída do paciente” os auxilia no reconhecimento dos primeiros sinais de recaída e na resposta de forma rápida e adequada.

O desconhecimento da doença é uma característica importante da esquizofrenia, afirmou Robin Emsley (Universidade Stellenbosch, Cidade do Cabo, África do Sul). Frequentemente a percepção permanece prejudicada, apesar de uma resposta favorável ao tratamento,4 e impacta na capacidade de se envolver na realização de decisões sobre o tratamento.

A interrupção da medicação é o preditor mais poderoso de recaída

A interrupção da medicação é o preditor mais poderoso de recaída.5 Mesmo curtos períodos de descontinuação do antipsicótico podem levar à recaída e ao retorno abrupto dos sintomas floridos , muitas vezes com poucos sinais de alerta.6 As consequências da recaída podem ser graves, envolvendo efeitos psicossociais7 e biológicos.6 Estes últimos incluem refratariedade emergente6, redução do volume cerebral8 e aumento da mortalidade.9

 

Os IAPs podem ser utilizados para reduzir as taxas de recaída

O Prof. Emsley sugeriu que os IAPs devem ser utilizados para reduzir as taxas de recaída. Em uma meta-análise, os IAPs foram associadas a um risco 64% menor de reinternação do que a medicação oral.10 A forma como o médico apresenta a opção de um IAP pode afetar muito a probabilidade de aceitação.11 É importante focar nos benefícios do tratamento para o paciente, não apenas na apresentação. Incorporar entrevistas motivacionais permite que crenças incorretas sobre o tratamento sejam desafiadas.

Em um estudo clínico, um IAP reduziu significativamente o tempo até a primeira hospitalização em indivíduos com esquizofrenia em fase inicial, em comparação com o tratamento padrão.

Os IAPs não são amplamente utilizados na fase inicial da esquizofrenia, por motivos como a superestimação do grau de adesão à medicação oral e o preconceito contra injeções.12 John Kane (Donald and Barbara Zucker School of Medicine, Nova Iorque, EUA) ressaltou que a dificuldade em aderir a tratamentos crônicos é uma característica humana normal e não deve ser estigmatizada. Muitas barreiras ao uso dos IAPs podem ser superadas por meio de educação e treinamento.12 Os resultados de um estudo clínico muito recente mostraram que um IAP reduziu significativamente o tempo até a primeira hospitalização em indivíduos com esquizofrenia em fase inicial, em comparação com o tratamento padrão.13

 

Benefícios do programa de intervenção precoce

Charlotte Emborg Mafi (Aarhus University Hospital, Dinamarca) discutiu o programa intensivo de intervenção precoce para o primeiro episódio psicótico introduzido na Dinamarca, com uma abordagem “assertiva”, a fim de otimizar o engajamento do paciente. As equipes possuem uma alta proporção de profissionais por paciente, permitindo visitas domiciliares e contato frequente. Os custos médicos diretos e indiretos totais, por paciente, foram reduzidos com esta abordagem, bem como o aumento da adesão ao tratamento.14,15

O apoio financeiro educacional para este simpósio satélite foi fornecido pela Lundbeck.

Our correspondent’s highlights from the symposium are meant as a fair representation of the scientific content presented. The views and opinions expressed on this page do not necessarily reflect those of Lundbeck.

This content does not necessarily represent the opinion of ECNP.

Referências

  1. Perkins DO, et al. Am J Psychiatry 2005;162:1785-804.
  2. McGorry PD, et al. World Psychiatry 2008;7:148-56.
  3. Volavka J, Vevera J. Int J Clin Pract 2018;72:e13094.
  4. Phahladira L. et al. Schizophr Res 2019;206:394-9.
  5. Robinson D, et al. Arch Gen Psychiatry 1999;56:241-7.
  6. Emsley R, et al. BMC Psychiatry 2013;13:50.
  7. Kane JM. J Clin Psychiatry 2007;68 Suppl 14:27-30.
  8. Andreasen NC, et al. Am J Psychiatry 2013;170:609-15.
  9. Taipale H, et al. World Psychiatry 2020;19:61-8.
  10. Tiihonen J, et al. Am J Psychiatry 2011;168:603-9.
  11. Weiden PJ, et al. J Clin Psychiatry 2015;76:684-90.
  12. Kane JM, et al. J Clin Psychiatry 2019;80:18m12546.
  13. Kane JM, et al. JAMA Psychiatry 2020;e202076.
  14. Hastrup LH, et al. Br J Psychiatry 2013;202:35-41.
  15. Nordentoft M, et al. Early Interv Psychiatry 2015;9:156-162.