Uso de Big Data para avaliar a possível associação entre uso de inibidor de fosfodiesterase e redução do risco do desenvolvimento da Doença de Alzheimer

 

Apesar dos avanços significativos no conhecimento das vias patogênicas e diagnóstico da Doença de Alzheimer (DA), a necessidade de novas estratégias terapêuticas para retardar a progressão e modificar o curso desta condição neurodegenerativa crônica é notória. Atualmente, o reposicionamento dos fármacos existentes tem sido considerado como abordagem terapêutica potencial para o manejo da DA.

A necessidade de novas terapêuticas para retardar a progressão da Doença de Alzheimer considera o reposicionamento dos fármacos existentes como potencial estratégia para o manejo da DA.

 

Apresentamos o primeiro estudo que utilizou um banco de dados de saúde suplementar - o IBM®MarketScan Database - que cobre mais de 30 milhões de vidas colaboradores e seu familiares por ano nos Estados Unidos. A novidade dessa abordagem está na aplicação de recurso de dados para testar a hipótese que uso de sildenafila pode ter propriedades protetoras no desenvolvimento da doença de Alzheimer. Estudos anteriores usaram amostras muito menores e produziram resultados contraditórios.

 

A principal novidade está no uso de Big Data para testar a hipótese de potencial propriedade protetora de um medicamento já existente no desenvolvimento da Doença de Alzheimer.

 

Dados de outros estudos apontam que o córtex temporal de pacientes com Doença de Alzheimer tem níveis significativamente maiores da proteína fosfodiesterase-5 (PDE-5). Vários estudos demonstraram que os inibidores da PDE5 podem aumentar modestamente a fluxo sanguíneo em repouso de pacientes com comprometimento cognitivo, mas os efeitos do sildenafila na DA não foram adequadamente avaliados. Outras publicações mostraram que os inibidores da PDE-5 potencialmente podem interromper uma via de sinalização relevante para a plasticidade sináptica e processos de memória (via óxido nítrico/ guanosina monofosfato cíclico/ proteínas quinases G/elementos de ligação de resposta da adenosina monofosfato cíclico). Sendo assim, o uso dos inibidores da PDE-5 tem sido proposto como estratégia terapêutica acessível e potencialmente eficaz para a DA. Uma meta-análise recente do papel potencial dos inibidores da PDE-5 no tratamento da demência corroborou esses resultados. Vale destacar que a sildenafila é eficaz para tratamento da disfunção erétil e os fatores de risco para homens mais velhos com prescrição de sildenafila são doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes mellitus, uso de tabaco, hiperlipidemia, síndrome metabólica e depressão; que também aumentam o risco de síndromes demenciais.

 

O objetivo da publicação apresentada foi avaliar a relação entre o uso de sildenafila e um menor risco de doença de Alzheimer, utilizando uma grande base de dados de saúde suplementar. Foram utilizados dados dos anos de 2016 a 2019 com informações da maioria dos segurados com prescrição de sildenafila identificadas pelo código nacional (EUA) de medicamentos. O diagnóstico de DA e outras condições clínicas foi identificado pelos registros médicos indivíduos e códigos da CID-10.

Todos os participantes deveriam cumprir os seguintes requisitos:

1) cobertura de saúde contínua de 2016 a 2019;

2) 65 anos ou mais no início do estudo;

3) sem diagnóstico prévio de comprometimento cognitivo leve, encefalopatia ou demência de qualquer tipo;

4) a data de diagnóstico de DA posterior à data em que o medicamento em investigação foi prescrito.

 

Os participantes no estudo que receberam uma prescrição de sildenafila foram alocados no grupo de exposição, enquanto os participantes que não receberam prescrição para o medicamento foram designados como grupo de controle. O estudo mediu o intervalo entre o início do uso do sildenafila e o diagnóstico de DA. Os indivíduos sem diagnóstico de DA foram excluídos da avaliação final do estudo.

Foi feita uma análise das covariáveis incluindo idade, sexo, região geográfica dos EUA e o Índice de Comorbilidade de Charlson (categorizado com base nas comorbidades nos registros médicos dos participantes).  Foi calculada uma pontuação de propensão de compatibilidade para cada indivíduo, usando um modelo de regressão de Cox para controle dos confundidores quanto o risco proporcional para desenvolvimento de DA na população-alvo. Cada indivíduo do grupo que recebeu sildenafila foi emparelhado na razão 1:1 para indivíduos do grupo controle.

No total, 17.125 indivíduos tiveram pelo menos uma prescrição de sildenafila, enquanto 35.652 nunca haviam recebido. Depois de realizar o emparelhamento 1:1 pela pontuação de propensão de compatibilidade, havia 13.587 indivíduos em cada grupo. Do total de 27.174 participantes, 5.674 (10,7%) foram diagnosticados com DA, sendo que os usuários de sildenafila tiveram um risco menor de desenvolver DA (5,7%) em comparação com aqueles que não receberam sildenafila (9,5%).

Esses resultados demonstraram uma associação significativa entre o uso de sildenafila e um menor risco de doença de Alzheimer após ajuste dos fatores de confudimento relevantes. A utilização de sildenafila foi significativamente associado a uma redução de 60% do risco de desenvolver doença de Alzheimer em idosos com 65 anos ou mais (HR=0,40; IC95%:0,38-0,44; P<.0001) em comparação com o grupo controle. As análises estratificadas por sexo revelaram que sildenafila estava relacionada com maior redução de risco de DA no sexo masculino em comparação ao feminino: sildenafila foi considerada significativamente associado a um risco 62% menor de DA em homens (HR = 0,38; IC 95%: 0,35-0,42; P<0,0001) em comparação a um risco 47% menor de DA em mulheres (HR=0,53; IC 95%: 0,31-0,90;P = 0,019).

 

O estudo sugere que inibidores fosfodiesterase-5 podem ser uma candidatos promissores no manejo da Doença de Alzheimer. Mais ensaios clínicos randomizados devem ser considerados no futuro.

 

O estudo sugere que a sildenafila pode ser uma candidata promissora no tratamento da Doença de Alzheimer. Mais ensaios clínicos randomizados devem ser considerados no futuro. Estão planejadas análises adicionais de outros medicamentos desta classe terapêutica, como tadalafila, que também pode apresentar efeitos comparáveis ​​na redução do risco do desenvolvimento da Doença de Alzheimer.

 

 

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Referências

Huo X, Finkelstein J. Using Big Data to Uncover Association Between Sildenafil Use and Reduced Risk of Alzheimer's Disease. Stud Health Technol Inform. 2023 May 18;302:866-870.