Nós temos tantos objetivos compartilhados —notadamente para garantir que sejam concedidos recursos adequados à saúde mental — que a parceria se torna natural. A questão não é “Por que colaborar?”, mas “Por que levou tanto tempo para começarmos?”, disse Silvana Galderisi no workshop realizado com o grupo de defesa de pacientes GAMIAN Europe, no congresso da Organização de Psiquiatria Europeia (EPA) de 2019.
Os problemas de saúde mental respondem por cerca de 20% da carga de incapacidade, porém os serviços de saúde mental normalmente atraem apenas cerca de 4% dos orçamentos nacionais de saúde. Da mesma forma, apenas 5% do orçamento global da UE para a investigação em saúde são gastos em saúde mental.
É necessário respeito mútuo; e um financiamento que corresponda à extensão do problema. Ao conversar com os responsáveis pela elaboração das políticas de saúde e outras partes interessadas, os pacientes e os psiquiatras precisam falar com uma voz forte e unida, argumentou o professor Galderisi, que é ex-presidente da EPA, e é da Universidade de Campania Luigi Vanvitelli, em Nápoles, na Itália.
Os pacientes e os psiquiatras precisam falar com uma voz forte e unida
Financiamento justo e respeito mútuo
Além disto, se capacitarmos os pacientes, nós nos capacitamos; e os pacientes capacitados também são um recurso valioso.
Philip Gorwood, presidente da EPA, endossou essa visão e refletiu sobre os fatores necessários para sustentar um bom relacionamento. Combinar o que o paciente espera com a experiência adequada, no momento e no lugar certo, é a base de um bom relacionamento, ele sugeriu.
O primeiro encontro é aquele no qual será construída a aliança terapêutica. Isso não pode ser feito de forma apressada. Porém, hoje em dia, isto acaba sendo muito comum, devido à pressão para atender muitos pacientes.
Objetivos compartilhados precisam de entendimento compartilhado
Embora seus objetivos possam ser os mesmos, pacientes e psiquiatras, sem dúvida, possuem perspectivas diferentes.
Extrair aquilo que há de melhor em seu relacionamento, enquanto compreende-se melhor os aspectos considerados difíceis, é o objetivo da colaboração de uma pesquisa inovadora que reunirá as narrativas de vinte pares de pacientes e psiquiatras da Finlândia, França, Itália, Romênia e Holanda. O projeto concentra-se em pessoas com experiência em receber tratamento para depressão, incluindo depressão no transtorno bipolar.
Matt Muijen, de Bruxelas, Bélgica, que faz parte do Conselho do GAMIAN, descreveu a iniciativa conjunta para estabelecer o que funciona e o que não funciona nas relações reais entre pacientes e psiquiatras. O projeto conduzirá uma análise qualitativa aprofundada de suas experiências, seguida de grupos focais, para explorar questões como:
• Intervenções que podem incentivar a confiança e um relacionamento positivo;
• A adequação de ferramentas e recursos para fornecer tratamentos de boa qualidade;
• Apoio moral aos profissionais de saúde, e
• Aspectos da formação e do treinamento que podem preparar melhor os profissionais de saúde.
A relação terapêutica é crucial, especialmente para as condições que necessitam de tratamento de longo prazo
Perspectiva de um paciente
Anouk Drieskens (Geel, Bélgica), que é psicóloga clínica e uma “especialista por experiência”, falou de sua vida desde que foi diagnosticada (de forma tardia) com o transtorno bipolar do tipo 2.
Para ela, o atendimento ideal — embora reconheça a vulnerabilidade do paciente — é baseado em uma crença e uma visão de recuperação. É holístico, incentiva esforços conjuntos focados em encontrar soluções e inclui:
• A elaboração conjunta de planos de cuidados e tomadas de decisão compartilhadas que levam em consideração os valores, os pensamentos, os sentimentos, as habilidades e os papéis do indivíduo;
• O incentivo à autogestão;
• O envolvimento de familiares próximos;
• O uso de ferramentas para alertar antecipadamente sobre crises iminentes — e para evitá-las quando possível;
• O incentivo à participação máxima em sociedade, e
• A cooperação eficaz entre profissionais de saúde.
O cuidado ideal envolve um esforço conjunto focado em encontrar soluções e a crença na recuperação
Uma voz pan-europeia unida
O GAMIAN, que tem a adesão de 26 países europeus, representa os pontos de vista das pessoas com transtornos mentais e dá-lhes voz no desenvolvimento de sólidas políticas nacionais e da UE sobre prestação de serviços, disse Hikka Karkkainen, da Finlândia, presidente do GAMIAN-E, no workshop. Como sinal de uma estreita cooperação com outros, especialmente com a EPA, o presidente do GAMIAN é um membro votante no Conselho da Associação.
Entre as iniciativas atuais do GAMIAN está o desenvolvimento de um estatuto para pessoas com esquizofrenia que abrangerá diferentes tópicos, como iniciativas de defesa e o direito de acesso a um lugar seguro em caso de crise. Em maio de 2018, ela lançou uma Chamada à Ação para destacar a necessidade de melhorar a capacitação e a autogestão do paciente na saúde mental.
As publicações anteriores do EPA incluem Breaking the Silence: Sexual health impact on mental wellbeing (Quebrando o Silêncio: O impacto da saúde sexual no bem-estar mental) e A Sustainable Approach to Depression. (Uma Abordagem Sustentável da Depressão.)
Um novo léxico?
Ao encerrar o workshop, Silvana Galderisi levantou a questão do vocabulário: deveríamos estar falando de pacientes, clientes ou usuários do serviço? Devemos utilizar o termo “transtorno mental”? Deve haver um léxico estipulado ou a diversidade é boa? Questões para um outro momento — todavia, isto é outro exemplo da necessidade de uma abordagem colaborativa.
Our correspondent’s highlights from the symposium are meant as a fair representation of the scientific content presented. The views and opinions expressed on this page do not necessarily reflect those of Lundbeck.