Alteração da função sexual na depressão

A vida sexual tem um impacto significativo em nossa saúde física e mental. Porém, existem diferentes fatores que podem afetar a nossa saúde sexual, e a depressão é um deles.

No episódio #35 do LundCast, o Dr. Alfredo Minervino, médico psiquiatra (CRM-PB 4632 | RQE Nº 3424), foi o nosso convidado para falar sobre como a depressão afeta não somente o nosso bem-estar emocional, como também pode ter um impacto profundo na função sexual, seja pela doença em si ou até mesmo pelo efeito colateral de determinados medicamentos.

 

Dr. Alfredo, o que é ter uma vida sexual considerada saudável? E qual a importância da vida sexual na vida de um individuo, incluindo a saúde mental?

 

A vida sexual é uma das “pontas” do que temos como qualidade de vida. A vida sexual além de extravasar as pressões do dia a dia, também serve como uma fonte de prazer. A psiquiatria entende como uma condição necessária para que o indivíduo tenha prazer e se relacione com ele próprio e com o parceiro ou a parceira em um contato mais íntimo e prolongado, melhorando a qualidade de vida. Como há necessidade de intercomunicações, promove melhora da sociabilidade do indivíduo, e claro, além de lidar com determinadas frustações e condições que mantém um relacionamento saudável.

 

A depressão é um dos fatores que causam alterações na função sexual. Como acontece e qual o impacto na vida sexual de uma pessoa acometida pela depressão?

A depressão é um transtorno mental que acomete muitas pessoas e seus sintomas principais são a alteração do humor e a anedonia, ou seja, a falta de prazer em coisas que antes davam prazer. Algumas das características são: tristeza, isolamento, ideação de morte e suicídio, e também a diminuição da libido. Com isso, o individuo tem cada vez mais uma diminuição na vontade de ter ou manter relações sexuais, o que pode implicar em outras situações, como por exemplo: a incompreensão das pessoas que lidam com pessoas com depressão.

 

Essas alterações na função sexual podem afetar ainda mais a saúde mental e o relacionamento do paciente?

Sim, uma vez que o paciente já esteja com a saúde mental debilitada pelo quadro depressivo, e ainda com queixas de alteração na função sexual, pode impactar no seu relacionamento com o parceiro ou parceira. Essa condição pode levar a incompreensões. O parceiro pensa que se a pessoa não quer se relacionar sexualmente, é porque tem outra pessoa, ou porque o parceiro não dá mais prazer, não chama mais atenção. E não é isso, é uma incapacidade do indivíduo naquele momento... Há uma alteração nos neurotransmissores, que se reflete na capacidade do indivíduo em manter relações sexuais. Não é uma questão com o outro, mas com o paciente que padece com a depressão.

 

E essas alterações afetam igualmente todas faixas etárias e gêneros ou existe uma prevalência mais acentuada em um grupo específico? Essas queixas se apresentam de maneiras diferentes entre homens e mulheres?

 

A mulher se queixa muito de anorgasmia e o homem, pode queixar de dificuldades com ejaculação e orgasmo. Ambos os sexos reclamam, talvez a mulher reclame menos e compreenda melhor.

Socialmente falando, a ejaculação é muito importante para o homem, e na mulher a anorgasmia por vezes é sentida até na relação normal, sem que a paciente tenha depressão. Muitas mulheres passam a vida inteira sem ter nenhum tipo de orgasmo e não necessariamente tem depressão.

 

O tratamento antidepressivo é um dos possíveis fatores que podem causar alteração na função sexual. Como isso acontece, quais são os possíveis impactos negativos do tratamento medicamentoso na depressão e como isso pode ser manejado?

 

Começa a ser manejado desde a escolha individualizada do medicamento: a escolha para aquele determinado paciente, e não para um grupo de pacientes. Então, tudo é customizado. Os antidepressivos podem ter como consequência a diminuição da libido. Para um paciente jovem, uma medicação que traga muita diminuição da libido pode não ser a melhor escolha. Temos que pensar no perfil de efeito colateral melhor, porque todas as medicações antidepressivas são efetivas, desde que tenha a dose e o tempo de uso adequados. Quando se usa uma medicação e seus efeitos colaterais são principalmente na função sexual, a adesão do paciente pode ficar comprometida, a chance dele não tomara medicação é maior e o medicamento abandonado não tem como fazer efeito. Por isso, é preciso avaliar o perfil de efeito colateral da medicação prescrita para cada paciente.