Epigenética: a metilação do DNA é um caminho a seguir no tratamento da ansiedade?

Os transtornos de ansiedade normalmente têm uma idade precoce de início,1 e persistem de várias formas ao longo da vida dos pacientes. Portanto, é um desafio para a saúde pública encontrar tratamentos eficazes para gerenciar e, se possível, prevenir essas condições. Estes desafios foram abordados pelo Prof. Stefano Pini (Itália), Dr. Marcel Romanos (Alemanha), Prof. Nicolas Singewald (Áustria) e Dra. Miriam Schiele (Alemanha)

Os desafios do transtorno de ansiedade de separação

Um exemplo de um transtorno que apresenta desafios em vários níveis é o transtorno de ansiedade de separação (TAS). A prevalência de TAS ao longo da vida é de cerca de 5%; a persistência na idade adulta é relativamente comum e mais de 40% dos pacientes relatam o início na idade adulta.2

Os sintomas em adultos (por exemplo, perseguição [stalking] e ideação suicida) não são os mesmos que em crianças. Além disso, várias características dessa condição se sobrepõem às de outras, dificultando o diagnóstico diferencial. Ademais, os pacientes e seus amigos e familiares se adaptam aos seus medos e podem, em conjunto, desconsiderá-los como alguma disfunção no paciente, tornando até mesmo a descrição dos sintomas um desafio. No entanto, com base na prevalência substancial dessa condição e no risco para pacientes adultos, há uma necessidade urgente de desenvolver tratamentos eficazes para ela.

 

Epigenética, uma possível chave para novos tratamentos

É necessário desenvolver novos medicamentos e mecanismos de tratamento para os transtornos de ansiedade. Uma vertente promissora de pesquisa está nas interações entre a expressão genética e o ambiente, ou seja, os mecanismos epigenéticos. Dois desses mecanismos são a acetilação de histonas e a metilação de DNA.3

Mecanismos epigenéticos apontam para novos tratamentos para a ansiedade

As histonas desacetilases (HDAC) condensam a cromatina e, assim, "desligam" a transcrição gênica. A expressão do gene HDAC é regulada positivamente (upregulation) no cérebro e no sangue de pacientes com depressão e ansiedade comórbida.4 Em camundongos HAB, do inglês "high anxiety behavior", criados seletivamente para manifestar comportamento relacionado à ansiedade, foi demonstrada acetilação reduzida no córtex cingulado. A hiperansiedade desses camundongos no teste de compartimento claro/escuro pode ser atenuada pelo tratamento com inibidores de HDAC. Além disso, o tratamento com um inibidor de HDAC aumentou a memória inibidora do medo por muito tempo, sugerindo que tais inibidores poderiam ser um adjuvante promissor para terapias baseadas em exposição em pacientes com ansiedade.7

 

Metilação do DNA como marcador de tratamento eficaz

A hipometilação do DNA do gene da monoamina oxidase A (MAO-A) foi demonstrada em vários transtornos de ansiedade.Esses padrões de metilação mostraram responder ao ambiente do indivíduo: eventos negativos no ano anterior foram associados a uma redução relativa na metilação e um risco aumentado de ansiedade, e eventos positivos com um aumento na metilação e resiliência relativa à ansiedade.6

A metilação do DNA pode representar um marcador dinâmico do tratamento eficaz dos transtornos de ansiedade

O tratamento de distúrbios de ansiedade com terapia cognitivo comportamental (TCC) demonstrou estar associado a um aumento da metilação do DNA no gene MAO-A em respondedores, em comparação com não respondedores. Portanto, a metilação do DNA pode representar um correlato dinâmico do sucesso do tratamento nesses distúrbios. Também é possível que alguns tratamentos possam promover resiliência em indivíduos antes do início dos transtornos de ansiedade, por meio de mecanismos epigenéticos, proporcionando um possível tratamento preventivo para a ansiedade.

 

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Referências

  1. Beesdo-Baum K, Knappe S. Child Adolesc Psychiatr Clin N Am 2012;21(3):457–78.
  2. Silove D et al. Am J Psychiatry 2015;172(7):647–56.
  3. Schiele MA Clin Psychol Rev 2020;77:101830.
  4. Rey R et al. Mol Neurobiol 2019; 56(7): 4697–4707.
  5. Schiele MA et al Int J Neuropsychopharmacol 2018; 21(9): 822–27.
  6. Domschke K et al. Int J Neuropsychopharm 2012;15:1217–28.
  7. Sah A et al. Int J Neuropsychopharm 2019; 22(4): 317–328.