Explorando o engajamento com a vida no transtorno depressivo maior e na esquizofrenia - mecanismos, medição e significado

A recuperação funcional é um objetivo fundamental no tratamento do transtorno depressivo maior e da esquizofrenia. Em um Simpósio Satélite patrocinado pela Otsuka e Lundbeck no 34º Congresso do Colégio Europeu de Neuropsicofarmacologia (ECNP 2021), em Lisboa, a Dra. Iria Grande, da Universidade de Barcelona; a professora Silvana Galderisi, da Universidade de Campania Luigi Vanvitelli, e o professor Zahinoor Ismail da Universidade de Calgary, discutiram como o conceito de “engajamento do paciente com a vida” pode ser utilizado tanto na prática clínica quanto em ensaios clínicos para acompanhar a vida diária, que pode estar mais de acordo com as necessidades do paciente do que apenas focar no controle dos sintomas. 

Ouvindo pacientes com TDM: o que eles esperam do tratamento? 

O “engajamento do paciente com a vida” ressoa nas pessoas que são tratadas como importantes, pois reflete seus objetivos cognitivos, sociais, físicos e emocionais.1,2

 

O peso do TDM 

A Dra. Iria Grande destacou como a gravidade dos sintomas, funcionalidade e qualidade de vida podem contribuir para o peso do TDM.3 Como tal, a recuperação funcional como uma meta de tratamento se alinha mais com a perspectiva do paciente do que apenas com a resposta e remissão dos sintomas.4

Compreender a perspectiva de um paciente sobre sua condição e tratamento é essencial, pois pode ser diferente da de um profissional de saúde 

A visão do paciente sobre sua condição e objetivos de tratamento pode ser diferente da visão do profissional de saúde (HCP, do inglês Health Care Professional), portanto, a discussão e a comunicação são fundamentais.5,6

  • Sintomas de humor, físicos e cognitivos são relatados com mais frequência pelos pacientes do que pelos profissionais de saúde em muitos estágios5 

  • Ao comparar as expectativas do tratamento, os pacientes dão ênfase quase igual tanto a retornar à vida social, familiar e profissional quanto a ter seu humor melhor, e enfatizam muito mais receber um tratamento com poucos efeitos adversos do que os HCP.5

Ter uma vida significativa com TDM pode ser impactado por disfunções neurocognitivas7 e comorbidades físicas8, mas essas podem não ser os alvos das estratégias terapêuticas atuais, mesmo com o tratamento adjuvante.7-9 A Dra. Grande enfatizou como o melhor manejo dos distúrbios comórbidos, por meio de um atendimento multidisciplinar e da abordagem focada no paciente, facilitará uma melhor funcionalidade e qualidade de vida. 

 

Tratamento da esquizofrenia - o que estamos deixando passar? 

A definição de saúde mental, disse a professora Silvana Galderisi, mudou de uma definição focada exclusivamente no bem-estar para uma que abrange um estado de equilíbrio interno mais dinâmico, que equilibra as habilidades cognitivas, habilidades sociais, capacidade emocional e de expressão, flexibilidade, resiliência/vitalidade e funcionalidade.10

Para pessoas com esquizofrenia, os objetivos do tratamento incluem não apenas o controle dos sintomas e redução das hospitalizações, mas também:11

  • Pensamento claro e redução da ansiedade 

  • Autocuidado e emoções plenas 

  • Melhores relacionamentos e capacidade de socialização 

  • Redução do cansaço e da inquietação. 

A recuperação é uma construção multidimensional que compreende dois conjuntos de resultados: recuperação clínica objetiva e recuperação pessoal subjetiva 

Embora os psiquiatras concordem que a funcionalidade social é uma meta importante,12 e alguns antipsicóticos mostram boa eficácia nas escalas de funcionalidade social,13 muitos pacientes não apresentam pontuações altas nessas escalas, mesmo após o tratamento. 

  • Um estudo descobriu que enquanto 55,5% dos 303 pacientes tratados com um injetável de ação prolongada alcançaram remissão clínica, apenas 46,3% alcançaram remissão funcional, ao longo de 12 meses.14 

  • A funcionalidade pode ser prejudicada pelos efeitos adversos dos medicamentos.15

Diversos fatores do paciente, antes do tratamento, estão associados à funcionalidade (neurocognição, avolição, sintomas positivos e cognição social), com melhora no acompanhamento (maiores habilidades neurocognitivas e melhores habilidades de cognição social e da vida cotidiana). Elas são essenciais para observar a capacidade de personalização do tratamento e melhorar a recuperação.16

Com isso em mente, os objetivos do tratamento devem ser ajustados individualmente e levar em consideração:17

  • Recuperação clínica objetiva, como recuperação dos sintomas e nível de funcionalidade 

  • Recuperação pessoal subjetiva, como fatores de qualidade de vida e esperanças futuras. 

 

Medindo o engajamento com a vida no TDM e esquizofrenia

O professor Zahinoor Ismail resumiu de sua própria experiência como as principais necessidades não atendidas para o tratamento da esquizofrenia incluem recuperação funcional incompleta, altas taxas de recaída, adesão à medicação abaixo do ótimo e baixa qualidade de vida. Obter a perspectiva do paciente para seu plano de tratamento e medir os resultados do tratamento farmacológico, que significativos para os pacientes, pode ajudar a atender a essas necessidades. 

O conceito de engajamento do paciente com a vida surgiu quando os pacientes relataram experiências positivas com a terapia antipsicótica, que foi além do controle dos sintomas:18 

  • “Concluí mais projetos” 

  • “Tive minha primeira conversa de verdade há cerca de 3 meses” 

  • “Agora sou capaz de funcionar” 

Os itens das escalas clínicas existentes podem ser usados para representar o “engajamento do paciente com a vida”

É importante ser capaz de medir o engajamento do paciente com a vida tanto na prática clínica quanto nos ensaios clínicos. Com isso em mente, um painel de especialistas selecionou 10 itens relevantes da escala do Inventário de Sintomatologia Depressiva Autoavaliada para o TDM (do inglês, Inventory of Depressive Symptomatology-Self Rated scale for MDD), que se alinham com um domínio de quatro conceitos de engajamento com a vida (físico, emocional, social, cognitivo):1,19

  • Resposta do seu humor a eventos bons ou desejados; concentração/tomada de decisão; visão de si mesmo; visão do seu futuro; interesse geral; nível de energia; capacidade de sentir prazer ou diversão (excluindo sexo); interesse por sexo (não a atividade); sensação de desaceleração; sensibilidade interpessoal 

Eles também selecionaram 11 itens na Escala de Síndrome Positiva e Negativa (do inglês, Positive and Negative Syndrome Scale - PANSS) para esquizofrenia:18

  • Embotamento afetivo; retração emocional; relacionamento de má qualidade; retraimento social passivo/apático; dificuldade de pensamento abstrato; falta de espontaneidade e fluxo de conversa; depressão; retardo motor; alteração da avolição; preocupação; e evitamento social ativo 

A validação de itens de engajamento com a vida sustenta a noção de que o tratamento farmacológico pode ter um potencial para melhorar o engajamento do paciente com a vida, além de melhorar os sintomas de esquizofrenia. 

Em um estudo sobre os efeitos de um antipsicótico na esquizofrenia, após 6 semanas:

  • A análise de componentes principais sugere que, conforme previsto, esses itens selecionados da PANSS, agrupados, representam o construto subjacente18,20

  • Dez dos onze itens mostraram melhora após 6 semanas de tratamento em comparação com o placebo (p <0,05) 

  • As taxas de resposta nos itens selecionados da PANSS e agrupados foram maiores com o tratamento ativo do que com o placebo 

  • A resposta nos itens selecionados da PANSS parecia estar associada a uma funcionalidade melhorada20

 

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Our correspondent’s highlights from the symposium are meant as a fair representation of the scientific content presented. The views and opinions expressed on this page do not necessarily reflect those of Lundbeck.

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Referências

1. Weiss C, et al. Poster presentated at Psych Congress: San Diego, CA, USA, 2019.

2. MacKenzie E, et al. Poster presented a the American Society of Clinical Psychopharmacology Annual Meeting: Virtual, 2021.

3. Cohen RM, et al. JAMA Psychiatry 2013, 70, 343-350.

4. Saltiel PF, Silvershein DI. Neuropsychiatr Dis Treat 2015, 11, 875-888.

5. Baune BT, Christensen MC. Front Psychiatry 2019, 10, 335.

6. McCue M, et al. Neurol Ther 2019, 8, 167-176.

7. Salagre E, et al. J Affect Disord 2017, 221, 205-221.

8. Colomer L, et al. Braz J Psychiatry 2020.

9. Mago R, et al. BMC Psychiatry 2018, 18, 33.

10. Galderisi S, et al. World Psychiatry 2015, 14, 231-233.

11. Bridges JF, et al. Patient Prefer Adherence 2018, 12, 63-70.

12. Gorwood P, et al. Ann Gen Psychiatry 2013, 12, 8.

13. Huhn M, et al. Lancet 2019, 394, 939-951.

14. Gorwood P, et al. Psychiatry Res 2019, 281, 112560.

15. Tandon R, et al. Ann Gen Psychiatry 2020, 19, 42.

16. Mucci A, et al. JAMA Psychiatry 2021, 78, 550-559.

17. Vita A, Barlati S. Curr Opin Psychiatry 2018, 31, 246-255.

18. Ismail Z, et al. Poster Presentation. Annual Congress of the Schizophrenia International Research Society: Florence, Italy, 2020.

19. Weiss C, et al. Poster Presentation.. In American Society of Clinical Pharmacology: Miami, FL, USA, 2020.

20. Meehan SR, et al. Poster Presentation. American Society of Clinical Psychopharmacology: Miami, Florida, USA, 2020.