Esta sessão do APA Online 2022 (Associação Americana de Psiquiatria) focou no futuro do DSM e em como ele pode permanecer relevante para o campo da psiquiatria. Os palestrantes discutiram a importância de abordar os determinantes sociais de saúde mental, raça, etnia e nacionalidade, e a funcionalidade do paciente, além das vantagens do quadro mais amplo de Critérios de Domínio de Pesquisa (RDoC) nos critérios de diagnóstico psiquiátrico.
Determinantes sociais da saúde mental
"Determinantes sociais da saúde mental" (SDoMH, do inglês social determinants of mental health) foi o tema da Reunião Anual da APA de 2022. O professor Roberto Lewis-Fernández (Columbia University, EUA) descreveu como as condições em que as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem são as forças e os sistemas que moldam a vida diária. Estes afetam a biologia, a experiência subjetiva, o comportamento de risco e os mecanismos de enfrentamento de uma pessoa. Além de influenciarem o início e o curso da psicopatologia e afetarem seu acesso e assistência médica de qualidade.
A desigualdade é uma fonte pouco reconhecida da doença mental
A desigualdade tem sido destacada como uma fonte pouco reconhecida da doença mental e do sofrimento. Dados mostram que a prevalência de doença mental é maior em sociedades mais desiguais, mesmo entre países de alta renda.1
Raça, etnia e nacionalidade
A Dra. Altha Stewart (University of Tennessee, EUA) enfatizou a importância de abordar a raça, a etnia e a nacionalidade ao fazer um diagnóstico psiquiátrico. Não fazer isso pode resultar na desconfiança do paciente nos serviços e instituições, e em um engajamento limitado com os cuidados médicos. Práticas discriminatórias e o racismo podem exacerbar transtornos psiquiátricos e contribuir para desfechos ruins. Isso pode levar ao diagnóstico errado e opções de tratamento e qualidade dos cuidados equivocados.
É importante abordar raça, etnia e nacionalidade ao fazer um diagnóstico psiquiátrico
A última revisão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5-TR) foi publicada no início de 2022.2 O papel do SDoMH foi ampliado, especialmente nas subseções de transtornos sobre Prevalência, Risco Ambiental e Fatores Prognósticos, Problemas Diagnósticos Relacionados à Cultura, e no capítulo de Cultura e Diagnóstico Psiquiátrico. Para abordar questões de raça, etnia e nacionalidade, foi criado um Comitê de Revisão Transversal sobre Questões Culturais. Todo o texto do DSM também foi revisado e revisto por um Grupo de Trabalho de Equidade Étnico-racial e Inclusão, para garantir a atenção adequada aos fatores de risco, como a experiência do racismo e discriminação, bem como ao uso de linguagem não estigmatizante.
Critérios do Domínio de Pesquisa (RDoC)
Em 2008, o Instituto Nacional de Saúde Mental3 destacou a preocupação emergente de que o atual sistema de diagnóstico estivesse limitando a pesquisa translacional, uma vez que as categorias de transtornos representavam frequentemente síndromes heterogêneas ao invés de doenças específicas. Isso levou ao estabelecimento do projeto Critérios de Domínio de Pesquisa (RDoC, do inglês Research Domain Criteria)4, e Bruce Cuthbert (National Institute of Mental Health, EUA) discutiu como isso está ajudando a informar novas concepções de doença mental, que podem ser usadas para futuras revisões do DSM.
O RDoC fornece uma estrutura alternativa para o estudo da psicopatologia ao longo da vida, envolvendo domínios baseados em funções normais, que podem se tornar disfuncionais em uma variedade de doenças. Inclui o impacto de fatores ambientais e a integração de tipos de medidas (por exemplo, genética, funcionalidade cognitiva e sintomas).
O Dr. Cuthbert destacou maneiras pelas quais essa abordagem pode ser aplicada ao compilar DSMs futuros, incluindo a integração da experiência subjetiva, funcionalidade e biologia (por exemplo, problemas mente-corpo) e abordando problemas clínicos e mecanismos que atravessam os transtornos.
Importância da funcionalidade
A funcionalidade é um fator chave em pacientes com sintomas de saúde mental que procuram ou são encaminhados para cuidados médicos
Diana Clarke (APA) falou sobre a importância da funcionalidade em DSMs futuros, como um fator-chave em pacientes com sintomas de saúde mental que procuram ou são encaminhados para cuidados médicos. O DSM-5 passou do uso da Avaliação Global da Funcionalidade para o WHODAS 2.05, que separa a avaliação dos sintomas de funcionalidade. Isso ajuda a identificar e tratar pacientes que podem ser considerados com alta funcionalidade, mas ainda estão em sofrimento mental.
Futuro do DSM
Será crucial garantir que o DSM englobe e permaneça relevante para todos os pacientes
Os palestrantes concordaram que, no futuro, harmonizar o DSM com o RDoC e abordar adequadamente o SDoMH, raça, etnia e nacionalidade, e a funcionalidade do paciente será crucial para garantir que o DSM englobe e permaneça relevante para todos os pacientes.