O embotamento afetivo descreve um efeito de indiferença, falta de afeto e incapacidade de sentir emoções, que pode ser vivenciado por pessoas com transtorno depressivo maior (TDM) tratadas com antidepressivos.1,2 Acredita-se que a diminuição de estímulos dopaminérgicos e noradrenérgicos no córtex pré-frontal tenha um papel importante, e que o manejo possa ser orientado por meio da compreensão da neurofisiopatologia.3
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Um impacto negativo no resultado do paciente
46% dos pacientes em uso de antidepressivos relatam embotamento afetivo7
O embotamento afetivo é um sintoma residual vivenciado por pacientes com TDM, apesar do tratamento com antidepressivo. Esses pacientes encontram-se em risco aumentado de recaída.4
O embotamento afetivo pode impactar a funcionalidade cotidiana do paciente e impedir uma recuperação funcional completa.5 O embotamento afetivo mais grave está associado a uma pior qualidade da remissão.6
Quase metade dos pacientes com todos os tipos de antidepressivos monoaminérgicos relatam embotamento afetivo,6 e está associado ao tratamento com inibidores de recaptação de serotonina (ISRS), da seguinte maneira:2,5
- dentre 161 pacientes, 46% relataram uma gama reduzida de afeto, 21% relataram incapacidade de chorar e 19% relataram apatia7
- um estudo transversal de 117 pacientes revelou que aproximadamente 30% dos pacientes relataram alguma forma de apatia8
O que causa o embotamento afetivo?
Doses mais altas de ISRS têm maior probabilidade de causar embotamento afetivo9,10
O efeito primário dos ISRSs é o processamento reduzido de estímulos negativos, em vez de um aumento de estímulos positivos.9
O embotamento afetivo está relacionado à dose do ISRS9,10 e, possivelmente aos efeitos serotoninérgicos nos lobos frontais e/ou na modulação serotoninérgica dos sistemas dopaminérgicos do mesencéfalo que se projetam no córtex pré-frontal (CPF).10 Ao melhorar a transmissão serotoninérgica, os ISRSs podem ativar interneurônios GABA, reduzindo, assim, o estímulo noradrenérgico e dopaminérgico.11
CPF dorsolateral:
- está associado principalmente às funções “cognitivas” ou “executivas”12
- parece desempenhar um papel na regulação da emoção negativa, por meio de estratégias de reavaliação/supressão13,14
- lesões na região estão associadas as pontuações nas escalas de TDM significativamente mais altas, comparada a lesões no cérebro que não envolvem o CPF12
- está hipoativo em repouso e aumenta sua atividade durante a remissão dos sintomas15
O CPF dorsolateral parece desempenhar uma função crítica no TDM, por meio de uma falha na regulação do afeto negativo
CPF ventromedial:
- é amplamente atribuído a funções “emocionais” ou “afetivas”12
- lesões estão associadas a pontuações nas escalas de TDM significativamente mais baixas do que para lesões no cérebro que não envolvem o CPF12
- está hiperativo em repouso e diminui sua atividade durante a remissão dos sintomas13
Os estudos de neuroimagem sugerem uma ligação crítica entre o processamento automático de sinais emocionais na amígdala e a regulação dessa atividade no córtex frontal.16
Reduzir a dose de ISRS8 ou trocar o antidepressivo são as opções terapêuticas
As opções para resolver o embotamento afetivo são, portanto:
- diminuir a dose e/ou descontinuar o ISRS8
- trocar o antidepressivo para outro com um perfil diferente, que possa melhorar a resposta emocional do paciente17