O aumento do engajamento com a vida traz uma nova perspectiva no tratamento do Transtorno Depressivo Maior (TDM), que valoriza também a percepção do paciente. O conhecimento sobre este conceito ainda não é tão amplo e desperta cada vez mais interesse.
Este foi o tópico do Simpósio da Lundbeck durante 5ª Masterclass de atualização terapêutica, realizado no dia 11 de agosto em São Paulo e apresentado pela psiquiatra e professora do Departamento de Neurociências e Saúde Mental da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Dra Fabiana Nery, nossa convidada para responder algumas perguntas e ampliar o conhecimento sobre o tema.
- Dra Fabiana, qual sua percepção sobre as definições de sucesso do tratamento no TDM ao longo das últimas décadas?
Para entender a evolução das definições de sucesso no tratamento do TDM é fundamental observarmos essa trajetória do ponto de vista histórico. Na década de 70, as medicações antidepressivas tinham sido lançadas há pouco tempo e as opções eram escassas, o tratamento se restringia apenas ao uso dos antidepressivos tricíclico. Sendo assim, considerar resposta, ou seja, uma melhora de, ao menos 50%, como o parâmetro de sucesso no tratamento era compreensível, diante do contexto e do arsenal terapêutico disponível naquele momento. Com o passar dos anos e o surgimento de novas medicações antidepressivas, na década de 90 a observação clínica e as evidências científicas demonstraram que considerar a obtenção apenas de resposta no tratamento não era suficientemente adequada. A busca por um estado de remissão sintomática seria o ideal do ponto de vista dos objetivos finais do tratamento dos transtornos depressivos e permaneceu como paradigma válido durante muitos anos.
Atualmente, partindo de uma visão voltada para sintomatologia da doença, desempenho e bem-estar do paciente, considera-se o parâmetro de sucesso no tratamento da depressão não apenas a remissão sintomática, mas também o retorno funcional e a qualidade de vida.
Esta mudança de paradigma é um reflexo da diversificação e da sofisticação das estratégias medicamentosas ao longo do tempo, e, de forma mais intensa nos últimos anos.
- Aumentar o engajamento com a vida é considerado cada vez mais como um objetivo relevante no tratamento do TDM. O conceito abrange resultados importantes para o paciente, mas, ao mesmo tempo pode ser um desafio na prática clínica. Como a doutora considera que a ampliação do conhecimento deste conceito de engajamento com a vida pode ser uma aliada no tratamento da depressão?
A busca por um aumento de engajamento com a vida, que envolve emoções positivas e desfechos funcionais como os sentimentos de prazer, motivação, recompensa e vitalidade, se insere no contexto da mudança de paradigma em relação aos objetivos a serem alcançados no tratamento.
Considerar quais objetivos são importantes na visão do paciente, e, não apenas do ponto de vista do médico, traz uma nova e mais sofisticada forma de olhar para os objetivos do tratamento dos transtornos depressivos. Isto é importante, pois, nos permite estar mais atentos e sermos mais precisos no tratamento de sintomas residuais que comumente estão associados a maior risco de recaída e piora da qualidade de vida nesses pacientes.
- Quais são as principais estratégias terapêuticas adotadas para alcançar o objetivo de aumentar o engajamento com a vida?
A potencialização das medicações antidepressivas com medicamentos com mecanismos de ação distintos da medicação inicial, como os antipsicóticos de segunda geração, é uma estratégia largamente reconhecida como eficaz na busca da remissão e na melhora de sintomas residuais e recentemente tem se demonstrado também eficaz no aumento do engajamento com a vida, assim como a associação da terapêutica medicamentosa ao acompanhamento psicoterápico.
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