As mudanças na composição e na diversidade do microbioma intestinal, resultantes de estilos de vida modernos, implicam na etiopatogênese de doenças mentais, explicaram os professores Dolores Malaspina e Jose Clemente, da Icahn School of Medicine (Escola de Medicina Icahn), em Nova Iorque. Em uma apresentação fascinante para o Encontro Anual da Associação Americana de Psiquiatria (American Psychiatric Association – APA) 2020 On Demand, eles descrevem como as alterações no microbioma intestinal estão associadas às mudanças na função cerebral e no comportamento das pessoas.
O microbioma intestinal pode modular a função cerebral e os comportamentos através do eixo microbiota-intestino-cérebro2
Foi mostrado em 2004 que microrganismos colonizadores regulam o desenvolvimento da resposta ao estresse hipotálamo-hipófise-adrenal em camundongos,1 disse a professora Malaspina.
Um gradiente de diversidade microbiana já foi demonstrado entre populações. Desde o microbioma de alta diversidade das sociedades agrárias tradicionais até o microbioma de baixa diversidade das sociedades urbanizadas modernas, disse o professor Clemente.3-6
O TDM está associado com a redução dos produtores de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) e ao aumento dos gêneros pró-inflamatórios
A diversidade e a composição microbiana são significativamente alteradas nos transtornos do humor
A microbiota intestinal de pacientes com transtornos do humor mostra mudanças significativas em sua diversidade e composição, em comparação com indivíduos saudáveis. Em pacientes com transtorno depressivo maior (TDM), as constatações comuns incluem:
- diminuição dos gêneros bacterianos produtores de AGCC
- aumento dos gêneros pró-inflamatórios e metabolizadores de lipídeos7
Essas mudanças podem estar relacionadas à inflamação sistêmica crônica de baixo grau associada a transtornos de humor, disse o professor Clemente7
Bactérias intestinais específicas também foram associadas a marcadores inflamatórios e perfis metabólicos, gravidade da doença, duração da doença e sintomas psiquiátricos.7
Lachnospiraceae está associada à gravidade da esquizofrenia
Alterações na microbiota intestinal podem participar do início e/ou da patologia da esquizofrenia
Pacientes com esquizofrenia têm um índice de alfa-diversidade do microbioma diminuído e alterações específicas da composição microbiana intestinal em comparação com controles saudáveis. As famílias Veillonellaceae e Lachnospiraceae foram associadas à gravidade da esquizofrenia,2 disse o professor Clemente.
Camundongos axênicos (germ-free) que receberam transplantes fecais de microbioma característico de esquizofrenia apresentaram menos glutamato e mais glutamina e ácido gama-aminobutírico no hipocampo em comparação a controles saudáveis, e apresentaram comportamentos relacionados à esquizofrenia semelhantes a outros modelos de camundongos de esquizofrenia, que envolvem hipofunção glutamatérgica,2 acrescentou ele.
Os resultados sugerem que as alterações na microbiota intestinal podem participar no início e/ou na patologia de esquizofrenia pela modulação das vias metabólicas microbiota-intestino-cérebro.2
Outras ligações entre o microbioma e o comportamento
Outros dados apresentados pelo Professor Clemente, que ligam o microbioma ao comportamento, incluíram:
- alterações estruturais de interconectividade dentro e entre as regiões do cérebro em indivíduos que são obesos e que também apresentam ansiedade e TDM6
- mudanças na microbiota fecal com aumento de Lachnospiracea associado ao estresse9
- síntese modificada de metabólitos da microbiota intestinal, que afeta a expressão gênica no córtex pré-frontal, envolvendo oligodendrócitos mielinizantes e modulando o comportamento social10
Para obter mais informações sobre como o microbioma desempenha um papel nos distúrbios do cérebro, consulte este conjunto de artigos no Campus do Lundbeck Institute (em inglês): https://institute.progress.im/en/content/microbiome-and-brain-disorders-series-articles