Seria realista substituir o termo "esquizofrenia" por outro como "espectro da psicose"?

A ideia de substituir “esquizofrenia” por outro termo divide igualmente a opinião psiquiátrica na Europa. O termo atual carrega um século de estigma, e a coerência clínica do conceito é "questionável". Mas há consenso sobre um opção melhor? Além disso, podemos aprender algo com a experiência do Japão sobre a mudança do termo?

Existe a preocupação de que o estigma possa simplesmente ser transferido para um novo termo adotado

Mesmo seus defensores descrevem o termo “esquizofrenia” como “ainda vivo, mas nada bem”1, e muitos psiquiatras pedem sua substituição. Variantes de “transtorno do espectro da psicose” foram sugeridas,2 mas não há consenso sobre a conveniência da mudança ou de um termo substituto.

Essa contínua falta de acordo se reflete nas descobertas de uma pesquisa apresentada recentemente no EPA por Simavi Vahip (Universidade Ege, Turquia), que preside o Conselho de Associações Psiquiátricas Nacionais da EPA.

A mudança para “transtorno de integração” incentivou uma discussão franca sobre o diagnóstico

 

A mudança de nome não está nos planos na Europa

Foram recebidas respostas de 29 presidentes ou representantes das 44 associações nacionais. Em resumo:

  • 75% dos entrevistados disseram que o termo “esquizofrenia” teve um efeito estigmatizante, mas apenas metade acredita que renomear a condição teria um efeito benéfico
  • Cerca de dois terços disseram que qualquer efeito de renomeação diminuiria com o tempo, e 80% pensam que os benefícios da renomeação poderiam variar com a cultura local
  • O nome alternativo mais popular foi “transtorno do espectro da psicose” (apoiado por 31%), seguido por “transtorno de integração” (14%); mas 28% dos entrevistados não gostaram de nenhuma das dez opções que receberam.

 

Em apenas um país respondente – Itália - havia uma associação nacional ativamente envolvida em considerar uma mudança de nome e consultar pacientes e famílias. Mas sabe-se que tais esforços também estão em andamento em dois países (Reino Unido e Holanda) cujos representantes não responderam.

 

Sinais positivos do Japão

Após um pedido das famílias de pessoas com doença mental, o termo “doença da mente dividida” foi substituído por “transtorno de integração” em 2002. Os resultados parecem ter sido positivos.3

O novo nome foi aceito por 78% dos membros da Sociedade Japonesa de Psiquiatria e Neurologia, e a proporção de pessoas informadas sobre seu diagnóstico aumentou de 37% para 70%. A maioria dos psiquiatras relata que o novo nome é apropriado para a psicoeducação, e as pessoas em recuperação, sendo abertas sobre seu diagnóstico, promoveram o movimento contra o estigma.

Posteriormente, a Coreia do Sul adotou o novo nome “transtorno de sintonização” e Taiwan o termo “desregulação do pensamento e da percepção”.

 

“Esquizofrenia” pode não ser um conceito clínico ou biológico coerente

 

A verdadeira natureza da síndrome ficou obscurecida

Curiosamente, quando Bleuler sugeriu em 1911 que o termo “demência precoce” de Kraepelin fosse substituído, ele queria que os psiquiatras usassem o termo “grupo de esquizofrenias”. Assim, a aceitação da heterogeneidade do fenótipo e da fisiopatologia estava presente no início de tudo, disse Sylvana Galderisi (Universidade da Campania Luigi Vanvitelli, Itália).

Mas o uso do termo singular “esquizofrenia” dominou o discurso profissional e público, transmitindo a falsa ideia de uma única entidade biológica e clínica. E, no caso da percepção pública, a tradução literal das origens gregas do termo como “mente dividida” criou uma confusão totalmente inútil com a ideia de múltiplas personalidades

 

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Our correspondent’s highlights from the symposium are meant as a fair representation of the scientific content presented. The views and opinions expressed on this page do not necessarily reflect those of Lundbeck.

Referências

  1. Zoghbi AW, Lieberman JA. Psychol Med 2018;48:245-6
  2. Gülöksüz S, van Os J. Psychol Med 2018;48:229-44
  3. Sato M. Psychiatry Clin Neurosciences 2017;71:3
  4. Lasalvia A, Tansella M. Epidemiology and Psychiatric Sciences 2013;22:285-87